sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Os oásis de Maria Bethânia


 

Os oásis de Bethânia reunidos
O 50º álbum de Maria Bethânia, Oásis de Bethânia (2012 / Biscoito Fina / 35,00) vem com força total e com um tom de desabafo e fúria por parte da interprete de Cárcara, tamanha a voracidade com que as palavras são jogadas da boca da cantora. A prova maior disso é a regravação de Calúnia, do repertório de Dalva de Oliveira: a letra nervosa já avisa quisestes ofuscar minha fama, até jogar-me na lama só poruq eu vivo a brilhar; sim, mostras-te ser invejo, viraste até mentiroso, só para caluniar. Outro momento de desabafo é Carta de Amor, que, apesar do nome, é na verdade, um aviso dizendo Não mexe comigo, que eu não ando só. Em seguida, santos, entidades e até Jesus, entre muitos outros, são invocados em sua proteção, culminando no fim em um discurso em que afirma que esta pessoa que está tentando derrubá-la não passa de um nada. Maria Bethânia surge ainda mais forte neste disco, depois de lançar inúmeros discos igualmente fortes, com sua voz potente e cortante, mas neste mesmo disco há espaço para interpretações de cunho mais denso e emocional, que é especialidade de Bethânia, como a sensacional Casablanca, de Roque Ferreira e Vive, composta por Djavan. Com este novo trabalho, florido e forte Bethânia reafirma-se como intérprete maior deste Brasil. A sua presença e trabalho ainda é de grande relevância para a nossa música popular, queriam ou não. Oásis de Bethânia se aproxima da literatura, sem afastá-la da música e esse lirismo faz toda a diferença aqui.  O tal oásis de Maria Bethânia fica no sertão, com seu silêncio, seu céu limpo, gente digna e a proximidade de Deus. Com mais de 47 anos de carreira, a cantora lança um disco intimista, como uma capa e cores diversificadas em suas dez faixas e com um sabor de quero mais. O CD traz os seus preferidos Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro, além de Jota Velloso (seu subrinho), Djavan (34 anos depois do estouro de Álibi) e dois clássicos: Calúnia, já citado acima e Lágrima, de Orlando Silva. O disco é um dos melhores lançamentos da cantora, que já não precisa mostrar a ninguém sobre sua carreira, trabalho ou algo. Basta fechar os olhos e ouvir os oásis de Bethânia.

 

Oásis de Bethânia / Maria Bethânia
Nota 10
Marcelo Teixeira

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