sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A asa de Mariana Aydar



Pedaços de Aydar
Há tempos venho dizendo que Mariana Aydar é uma das melhores cantoras surgidas nesses últimos anos (juntamente com Roberta Sá) e o lançamento de seu quarto CD é a mais prova de que seu talento transcende a imaginação de todos nós perante a sua vocação maior. Pedaço duma asa (2015 / Brisa/ 29,99) é um dos mais autênticos discos lançados no ano passado e não dei vazão para esse detalhe não por descuido, mas para que eu pudesse abrir o Mais Cultura Brasileira de 2016 com esse artigo. Mariana Aydar reinventa o samba de Nuno Ramos na sua melhor forma, na sua melhor metátese e no seu melhor ângulo, dando a impressão de que tudo aqui cantado já estava preparado para que ela as cantasse de sua maneira mais jovial, serena e ao mesmo tempo único.  Há muita música de boa qualidade, poesia de tamanha delicadeza e artes visuais igualmente vistas em Peixes, Pássaros, Pessoas (2009), que para mim, é o melhor disco de carreira da cantora e que já vinha um pouco do arrebatador Nuno Ramos. Pedaço duma asa é um disco inclassificável, digno de uma responsabilidade mutua entre voz e poesia, arte e samba, Mariana e Nuno. O primeiro encontro de Mariana e Nuno foi em 2007. Logo, ela passou a gravá-lo em seus discos e emprestou sua voz à sonorização de Bandeira Branca, instalação de Nuno exposta na 29ª Bienal de São Paulo de 2010. Em 2013, foi convidada para participar do projeto Palavras Cruzadas, de Marcio Debellian, cuja proposta era reunir, num espetáculo, artistas da palavra, da música e da imagem. Mariana não hesitou em escolher Nuno. A partir do espetáculo nasceu Pedaço duma asa, quarto disco de estúdio da cantora, que mergulhou no universo poético do compositor como se as canções tivessem sido feitas pra ela. No release do disco, Debellian apresenta Pedaço duma asa como um trabalho que amplia o que se entende por parceria e composição, indo além do tradicional caso de uma cantora que grava um disco homenageando um compositor. Trata-se de um trabalho de dois artistas que pactuaram alcançar toda a potência poética do repertório que criaram. Sim, criaram, no plural. Pois a intérprete se mostrou ativa durante toda a elaboração do repertório, desde a seleção das músicas até a identidade que cada uma delas viria a assumir. E nesse pedaço qualquer de asa, Nuno brilha, Mariana brilha e o ouvinte brilha triunfal.

 

Pedaço duma asa (2015) / Mariana Aydar
Nota 10
Marcelo Teixeira

Um comentário:

J. DIAS disse...

Olá Marcelo. Destesto música sertaneja. São letras pobres, insrumental de baixíssimo nível e vozes onde um chora e outro grita. Ainda bem que eles não fazem parte da nossa MPB.
Um país que tem cantores da qualidade de um Elomar Figueira Melo e não consegue valorizar e um país pobre culturalmente. Mas temos esperança, já que alguns pais conseguem passar para os filhos o bom gosto musical.Fico feliz quando vou em apresentações de Xangai, Zé Geraldo, Vander Lee, Beto Guedes, Paulinho Pedra Azul, Geraldo Azevedo entre outros e veja lá a presença de jovens e empolgados. Inclusive na última apresentação de Elomar em São Paulo, na Caixa cultural tinha uma galera jovem.
Cara continue este trabalho com toda força. É um portal para as pessoas saberem que existe boa música no Brasil.