quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Flávio Tris: um sopro de alívio na MPB


As boas intenções de Flávio
Cantor independente do cenário musical brasileiro, Flávio Tris é exatamente aquilo que eu gosto de ouvir, sem ter a afetação generalizada que alguns bons cantores carregam hoje em dia: ele tem música na veia, tem boa voz, tem estilo e canta muito bem. Comparo Flávio a dois grandes cantores surgidos nos últimos tempos: Filipe Catto e Marcelo Jeneci, mas cada um ao seu jeito e Flávio também ao seu jeito. A comparação é inevitável até mesmo porque suas músicas se entrelaçam e, se fecharmos os olhos, temos a sensação de duvidar de quem é a letra, de quem é o som, de quem é a melodia, de quem é aquilo: de Marcelo, de Filipe, de Flávio? O bom mesmo é que Flávio surgiu em 2010 expondo um resultado em EP com cinco faixas mal digeridas pelo público. Em 2013, o cantor voltou a aparecer e apresentou nove canções autorais, unificadas a quatro daquele trabalho de estreia. Lançado na forma independende, com apoio do governo paulista, o disco teve a competente produção de Alê Siqueira e recebeu o título com apenas o nome do artista. Se dividindo entre o vigoroso violão e o magistral piano , Flávio se mostra inspirado em várias faixas, tanto nas letras quanto nas melodias. Nesse primeiro tópico, o disco tem achados poéticos, que aqui nos revelam um novo Caetano, de forma direta e forte. É o caso singelo de Selva, que trata o ato sexual de uma forma pouco ortodoxa. Pandora também é cheia de beleza e suavidades, assim como Asa de São João é um baião moderno, que mantém os olhos na tradição nordestina.  A voz melancólica de Flávio e as poucas variações de suas letras soa, por vezes, irônica demais para um disco sentimental e uniforme, mas essa qualidade é a principal atração para que o cantor os convide para ouvi-lo, valorizando seu disco do começo ao fim. O encontro com Tulipa Ruiz no bolero Sejas Tu é o ponto alto. Sublime. Divino. Audacioso. Hino mesmo é a sensacional Sol Nosso de Cada Tempo, que ganha toques divinos e vocais de Celso Sim. Encerrando o disco com chave de ouro, Tudo é uma marchinha de carnaval que ganha coro do principal coro masculino da nova safra de excelentes cantores da MPB: Celso Sim, Leo Cavalcanti e Filipe Catto. Flávio Tris acertou em cheio nesse disco e por um tris não entra na música popular brasileira como um dos melhores cantores de sua geração. Vale ouvir muitas vezes.


Flávio Tris / Flávio Tris
Nota 10
Marcelo Teixeira

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