Um pouco de loucura dos dois |
Há um pouco de loucura e saliência
no CD Eu Não Peço Desculpas (2002 / Universal
Music / 24,99) lançamento conjunto entre os amigos Caetano Veloso e Jorge
Mautner. Na época de seu lançamento, as entrevistas conjuntas e os shows nos
palcos Brasil a fora, a parceria entre Caetano e Mautner guardou contrastes
quase emagadores, para não dizer constrangedoras, de uma química entre dois
luminares de abajures: um aceso, outro apagado. Há bem da verdade, o CD é
pautado pela desenvoltura de ambos artistas completos, ricos musicalmente, mas
que desse toldo apenas Caetano conseguiu uma magnitude ampla, aonde conseguiu
sobreviver às custas do que pensava em música, arte e cultura. Mautner foi
massacrado pela crítica conservadora, pelo seu estilo, pelo seu canto e pela
sua pessoa e isso ofuscou e muito a sua bela carreira. Passados mais de
décadas, os dois se juntaram para fazer um disco atemporal, contraditório e
surpreendentemente belo. Esse é o motim para o descrever Eu Não Peço
Desculpas, um disco que pode soar engraçado, como pode ser estranho
para outros ou até mesmo maravilhoso para alguns. O fato é que o disco, hoje,
não é tão bem vinda na carreira dos dois artistas, pois suas músicas ficaram
esquecidas.
O
resultado é um disco que passeia por várias praias sonoras, num vôo
despretensioso, mas repleto de segundas intenções e ironias e é justamente isso
o que faz toda a diferença aqui. As letras são brincalhonas, escrachadas até,
mas falando sultimente de assuntos muito sérios, como no caso de Doidão ou Tarado. A liberdade lúdica é maior ainda em relação ao espectro
sonoro. Do pseudobrega Tudo Errado
aos trique-triques eletrônicos de Manjar
dos Reis, tudo soa com um frescor ausente há tempos da obra do baiano. Mas
nem tudo é brincadeira. Lágrimas Negras,
na voz de Caetano, ganha um tratamento sóbrio e delicado. E há um certo tom
pesado na releitura de Cajuína, com
Mautner, repleta de tons orientalizantes. Mas o que sobressai mesmo são os
gracejos bobíssimos e justificados – do pop farofento de O Namorado à palhaçada explícita de Tarado. E também nas boas viagens sonoras, como o ar renovado
concedido a Maracatu Atômico (com
tambores baianos e não pernambucanos) ou a experimentação pós-tropicalista (ao
menos na alma) de Feitiço.
O
disco em parceria dos dois cantores é, no mínimo, curioso.
Eu Não Peço
Desculpas / Caetano Veloso e Jorge Mautner
Nota 7
Marcelo Teixeira
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