quarta-feira, 2 de março de 2016

Qual a graça de Alice Caymmi?





Qual a graça de Alice Caymmi?
A cada ano a mídia brasileira e os empresários do mundo da música, tratam de eleger uma nova cantora que precisa ser diferente da cantora anterior lançada com requintes de diferenciação da cantora anterior e assim por diante. O mundo da música, nos dias de hoje, virou um mercado mal gerenciado, mal digerido, mal intepretado, mal necessário que não compete com as honrarias que muitas cantoras necessitam. A categoria de musicalidade exigida por muitas profissionais do canto precisam entender muitas coisas antes mesmo de subirem ao palco ou assinarem contratos por um certo tempo para poderem excercer seu verdadeiro ofício. Mas essa palavra ofício é pouco herdado para verdadeiras cantoras que buscam o timbre certo, a entonação certa, o álbum perfeito, a música centrada e a diversidade de uma cultura qualquer. Óbvio que não é preciso estarem todas nessas categorias citadas, mas um pouco de presença de palco, um pouco de brilho, um pouco de acidez mórbida, um pouco de relutância, um pouco de história musical e um pouco de carisma vocal contam muito para serem consideradas verdadeiras artistas. E nao é preciso ter parenteco com uma tia muito distante ou uma prima que canta sabe-se lá que estilo para ser considerada uma boa cantora. Nem sempre o produto novo é garantia de brasão familiar. Assim como nem sempre uma tia cantora pode ser referência para uma sobrinha que está iniciando a trilhar pelos mesmos caminhos. Dito tudo isso, eu friso que a família Caymmi é uma das mais reconhecidas e tradicionais famílias musicais que conseguiram (e conseguem) exprimir todo o sentimento embutido em harmonias, canções, festas e música. Mas não consigo entender o porque há sempre um restinho de areia movediça dentro de um âmbito musical tão harmonioso, tão arquitetônico, tão plural. Se de um lado temos Nana Caymmi e seu brilho magistral, sua voz potente e latente e sua presença de palco tão visceral, sua sobrinha Alice Caymmi transcende ao desfavor de todo o universo que a música lhe pede. Alice surgiu na música popular brasileira há pouco tempo e, diga-se de passagem, não é uma cantora de gabarito, não tem competência de palco, não tem voz, não tem estilo e não tem carisma. Qual é, então, a graça de Alice Caymmi? Nenhuma. Em seu segundo álbum, Rainha dos Rainhos (2014 / Jóia Moderna / 26,99), a cantora tenta demonstrar que é uma vertente nova no mercado, forçando a voz em algumas canções e estragando músicas riquissímas com novas roupagens que não servem para o nada. Com um estilo pop gótico dentro da MPB, Alice Caymmi desperdiçou um momento único em sua carreira ao se transformar numa marionete de si mesma, interpretando aquilo que não lhe convém e não lhe serve de estampa. Bom mesmo seria não ouvir Alice Caymmi e lembrar que a única semente feminina boa e com vasta experiência nessa família é sua tia, Nana.

 
 



 Qual a graça de Alice Caymmi?
Nota 4
Marcelo Teixeira

Um comentário:

Luís Gustavo Carboni disse...

Não descobri qual é a graça dela ainda, pelo menos em estúdio. Ainda quero conferir o DVD, pra ver se com tanta parafernália - ou nem tanta assim, mas o povo se impressiona com qualquer coisa - ela fica um pouco mais interessante. Até agora, não aconteceu pra mim. Prefiro a geração anterior da família.