sábado, 18 de outubro de 2014

Um certo Lobão sem razão

Lobão sem razão
Há uma grande diferença entre o Lobão dos anos 80, o Lobão dos anos 90 e o Lobão do ano 2000: nos anos 80, o cantor, compositor e roqueiro Lobão liderava a lista dos cantores mais poderosos da música popular brasileira e era considerado por muitos como um dos legítimos pai do Rock. Já nos anos 90, o mesmo Lobão passou a sofrer com a entrada definitiva do sertanejo caipira (porém mais refinado) de Chitão, Xororó, Leandro, Leonardo, Zezé, Luciano e por aí vai, misturado com a onda pagodeira de um lado e o axé de Daniela Mercury do outro. A onda roqueira de Lobão passou a ter uma fase mais obscura, fechada e concentrada em seu próprio nicho cultural. Nos anos 2000 tudo mudou: Lobão deixou de ser Lobão. O Lobão musico, o Lobão compositor, o Lobão dos palcos. Largou sua própria cultura para virar apenas uma cópia sem graça de sua própria cara. Diferentemente de grandes nomes do rock nacional, como Renato Russo ou Cazuza (que infelizmente se foram cedo demais), Lobão deixou sua imagem de cantor irracional lá nos anos 80 para se ver no ostracismo de sua inteligência agora no século 21. Deixou de ser o cantor e compositor de uma geração para se aventurar a dizer abobrinhas sem pé nem cabeça sobre o mundo da política (preferindo um partido qualquer) e adentrando em uma esfera a qual não está totalmente por dentro: o da crítica especializada. Lobão sempre foi um crítico voraz de vários assuntos, inclusive contra o Brasil (Brasil este que o revelou ao grande público) e bradou em letras de músicas aquilo que muitos queriam bradar, mas que não conseguiam. Nos anos 80, Lobão tentava competir com o grande astro do rock nacional, Cazuza, sobre letras politizadas de um Brasil sem futuro e tentava engatar músicas de efeito moral para que uma nação inteira pudesse ir de encontro suas ideologias. Sim, nos aúreos tempos de sua carreira magistral (se é que teve de fato!), Lobão tentou intimidar os jovens a lutar por seus direitos ao som de músicas como Vida Bandida, que influenciou uma geração inteira contra as mazelas de um país que tentava o seu desenvolvimento. No CD Zii e Zie, Caetano Veloso homenageou o cantor com a música Lobão Tem Razão, cujo reverencia o roqueiro. Se na música Caetano diz que o cantor tem razão sobre várias coisas, atualmente o mesmo Lobão anda desejando e muito: publicou um livro que não altera os fatores da indústria escrita nem dá aval para a cultura brasileira ou para quem quer ter uma cultura decente; lançou discos independentes em bancas de jornais que não acrescentou em absolutamente nada no comércio fonográfico e recentemente se autodefine crítico de governo numa revista que induz as pessoas a serem burras. Por que não tentar voltar lá atrás e rever seu passado, Lobão? Porque de vida bandida ele entende como ninguém. Não adianta dizer que Lobão está numa ditadura musical, porque muitos cantores de seu tempo (e muitos antes mesmo de seu tempo), ainda produzem discos sensacionais e com maior aval do grande público e aceitação da crítica verdadeiramente especializada. Lobão não sabe o que pensa, não sabe o que diz, não sabe o que é o Brasil. E não sabe porque nunca teve vontade de conhecer, tendo em vista que suas músicas sempre foram muito aquém de sua astúcia ímpar. Será que Caetano Veloso se arrependeu de compôr Lobão Tem Razão? Sugiro que o título seja alterado para Lobão Não Tem Razão.
 

Um certo Lobão sem razão
Marcelo Teixeira

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