Lobão sem razão |
Há uma grande diferença entre o
Lobão dos anos 80, o Lobão dos anos 90 e o Lobão do ano 2000: nos anos 80, o
cantor, compositor e roqueiro Lobão liderava a lista dos cantores mais
poderosos da música popular brasileira e era considerado por muitos como um dos
legítimos pai do Rock. Já nos anos 90, o mesmo Lobão passou a sofrer com a
entrada definitiva do sertanejo caipira (porém mais refinado) de Chitão,
Xororó, Leandro, Leonardo, Zezé, Luciano e por aí vai, misturado com a onda
pagodeira de um lado e o axé de Daniela Mercury do outro. A onda roqueira de
Lobão passou a ter uma fase mais obscura, fechada e concentrada em seu próprio
nicho cultural. Nos anos 2000 tudo mudou: Lobão deixou de ser Lobão. O Lobão
musico, o Lobão compositor, o Lobão dos palcos. Largou sua própria cultura para
virar apenas uma cópia sem graça de sua própria cara. Diferentemente de grandes
nomes do rock nacional, como Renato Russo ou Cazuza (que infelizmente se foram
cedo demais), Lobão deixou sua imagem de cantor irracional lá nos anos 80 para
se ver no ostracismo de sua inteligência agora no século 21. Deixou de ser o
cantor e compositor de uma geração para se aventurar a dizer abobrinhas sem pé
nem cabeça sobre o mundo da política (preferindo um partido qualquer) e
adentrando em uma esfera a qual não está totalmente por dentro: o da crítica
especializada. Lobão sempre foi um crítico voraz de vários assuntos, inclusive
contra o Brasil (Brasil este que o revelou ao grande público) e bradou em
letras de músicas aquilo que muitos queriam bradar, mas que não conseguiam. Nos
anos 80, Lobão tentava competir com o grande astro do rock nacional, Cazuza,
sobre letras politizadas de um Brasil sem futuro e tentava engatar músicas de
efeito moral para que uma nação inteira pudesse ir de encontro suas ideologias.
Sim, nos aúreos tempos de sua carreira magistral (se é que teve de fato!),
Lobão tentou intimidar os jovens a lutar por seus direitos ao som de músicas
como Vida Bandida, que influenciou uma geração inteira contra as mazelas de um
país que tentava o seu desenvolvimento. No CD Zii e Zie, Caetano Veloso
homenageou o cantor com a música Lobão Tem Razão, cujo reverencia o roqueiro.
Se na música Caetano diz que o cantor tem razão sobre várias coisas, atualmente
o mesmo Lobão anda desejando e muito: publicou um livro que não altera os
fatores da indústria escrita nem dá aval para a cultura brasileira ou para quem
quer ter uma cultura decente; lançou discos independentes em bancas de jornais
que não acrescentou em absolutamente nada no comércio fonográfico e
recentemente se autodefine crítico de governo numa revista que induz as pessoas
a serem burras. Por que não tentar voltar lá atrás e rever seu passado, Lobão?
Porque de vida bandida ele entende como ninguém. Não adianta dizer que Lobão
está numa ditadura musical, porque muitos cantores de seu tempo (e muitos antes
mesmo de seu tempo), ainda produzem discos sensacionais e com maior aval do
grande público e aceitação da crítica verdadeiramente especializada. Lobão não
sabe o que pensa, não sabe o que diz, não sabe o que é o Brasil. E não sabe
porque nunca teve vontade de conhecer, tendo em vista que suas músicas sempre
foram muito aquém de sua astúcia ímpar. Será que Caetano Veloso se arrependeu
de compôr Lobão Tem Razão? Sugiro que o título seja alterado para Lobão Não Tem
Razão.
Um certo Lobão
sem razão
Marcelo Teixeira
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