Sambas do absurdo: capa absurda |
Se fosse apenas pela compreensão do
que é samba, já seria um belo argumento para comprarmos o disco. Mas levando em
conta que temos a junção de Juçara Marçal, Rodrigo Campos e Gui Amabis,
temos que rever nossos conceitos e saborear até onde puder para termos a
certeza de que aqui há uma qualidade impressionante em boa parte do álbum. Não
chega a ser um disco perfeito, mas a sonoridade que envolve o samba e a voz
agradabilíssima de Juçara nos corrompe a uma satisfação plena de originalidade
e astúcia. Mesmo havendo uma breve assimetria de durabilidade absurda de atos,
fica impossível não absorvermos as canções como um todo, com a sua força
extraordinária e sagaz, demonstrando toda a sua grandiosidade em torno de três
grandes artistas da música nacional. Sambas do Absurdo
(2017 / YB / 28,99) é um disco que reúne a saga competente de três
artistas conceituados, cada qual com seu público fiel e que se reuniram para
fazerem o impossível por uma causa justa: mostras as vicissitudes da samba.
Havendo uma sincronia entre o sincretismo do samba com a poesia em sua essência
total, o resultado desse álbum nos repele ao universo infiltrado de tempos
soberbos em que o estilo se polemizou em áreas que não eram apenas o morro. Há
simbioses existenciais dentro da cadência sincopada provocativa e erótica nas
apimentadas canções, alimentados por uma perfilação de músicas com diversos
temas transversais e com assuntos que se entrelaçam aqui e ali, como sexo, conflitos,
urbanização, identidades de gêneros. São reflexões que nos remetem ao bom e
velho cancioneiro de outrora, em que o ouvinte parava para refletir e discutir
sobre a música de botequim, sobre o cantor, sobre a mulher, sobre a vida. São
levezas de outrora que jamais voltarão ao mercado fonográfico. Com apenas oito
faixas, Samba do Absurdo traz uma
analogia diferenciada na titulação de suas músicas: todas elas são marcadas
pelo mesmo nome, mas com numeração diferente. Assim, podemos dar nome pessoal
às músicas como exemplificação e isso não acomete no desenrolar do disco, que
são todas com o nome absurdo e com numeração de trás para frente. Uma bela e
genial sacada do trio, que fez de um disco simples a um disco de primeira
grandeza dentro do pantaleão destinado a evolução. Juçara Marçal é tão boa como
intérprete que chega a nos dar um nó na garganta quando canta, mesmo com uma
suavidade angelical que a rodeia. Encantadora do começo ao fim, sua voz é uma
suavidade existencial aos nossos ouvidos, mesmo com faixas sombrias e
temerosas, sufocantes e temidas, chocantes e norteadoras. Chega a ser um
absurdo sua voz. Mas absurdo mesmo é não ouvir o disco.
Samba
do Absurdo (2017) / Juçara Marçal, Rodrigo Campos e Gui Amabis
Nota
8
Por
Marcelo Teixeira
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