Leny : grande dama da MPB e sem rótulos |
Embora muitos ou poucos a considerem
como uma cantora de jazz, a própria Leny Andrade
não se considera rotulada como tal. Leny gosta de ser chamada de cantora.
Simplesmente cantora. Em alto e bom som e na sua mais plenitude definição. E por
que e para quê limitá-la a um gênero quando se sabe que ela domina tantos
outros? Se precisar for classificá-la de alguma maneira, a única palavra
possível seria: brasileira. Então assim a chamemos: Leny Andrade, uma cantora
brasileira. Assim como é uma cantora brasileira que fez mais sucesso (com
merecimento) do que em solo americano, a própria Leny diz que é uma aspirante
cantora americana. Nada nada e nada longe da verdade. Leny canta desde 1983,
quase todo o ano, em Nova York. E tanto que, em 1993, dez anos depois, já com o
Green card na bolsa, resolveu montar por lá um agradável espaço em formato de
moradia onde pudesse pousar o corpo durante suas longas e lotadas temporadas no
Ballroom, no Blue Note, no Town Hall e nas demais casas que disputavam o seu
canto. Era também uma base confortável para onde retornar depois de se
apresentar em Washington, em Los Angeles ou em cidades americanas. E até hoje é
assim, com a diferença de que seu principal placo em Nova York passou a ser a
casa de jazz mais respeitada do mundo: o Birdland, assim chamada para homeagear
o saxofonista Charlie Bird Prker. Nenhuma cantora pode ser comparada à Leny,
exceto Ella Fitzgerald. Excelente cantora que é,
Leny é uma cantora que improvisa em vocais, lógica e assimétricas em explosivo
dinamismo. Nascida no Rio de Janeiro em 1943, a cantora foi criada em conjuntos
habitacionais e desde pequena sonhava em ser cantora. Ingressou na Bossa Nova
tendo dois pontos centrais e cruciais: de um lado João
Gilberto, que mantinha uma postura cool, equilibrada, simplista, justa e
exata e de outro lado tinha a linha feminina que contrariava com a de Nara Leão, Dulce Nunes,
Astrud Gilbert, Odette
Lara, Wanda Sá, Joyce,
Miúcha, Elza Soares,
Elis Regina. Mas ao mesmo tempo que Leny tinha o
exemplo e companheirismo de João Gilberto, ela se dividia entre outras
inspirações e vertentes masculinas, como Wilson Simonal,
Jorge Ben e Emílio
Santiago. Mas ao adentrar na Bossa Nova, Leny provou que era Sambop,
estilo totalmente diferente do estilo banquinho e violão. Um dos maiores desmentidos
à história de que a bossa nova era cantar baixinho foi a entrada de Leny no
movimento: cantar baixinho não era com ela. E mesmo assim, Leny foi a mais consagrada
dentro desse time de cantoras extraordinárias. Miéle
e Ronaldo Bôscoli foram os responsáveis pelo
impacto da presença de Leny em solo brasileiro, quando produziram o histórico
show Gemini V, que também contava com Pery Ribeiro
e o Bossa Três. Depois disso, Leny percebeu que
aqui não seria seu verdadeiro palco, embora saiba da sua responsabilidade em
ser brasileira: o Brasil não a respeitaria como cantora, mulher e dona de uma
das vozes mais autorais de seu tempo. Fez e faz sucesso nos Estados Unidos pelo
conjunto da obra e lá o povo americano a reverencia como sendo a maior cantora
de jazz do mundo.
Leny
Andrade – uma cantora brasileira
Por
Marcelo Teixeira
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