Novo Rumo: a cara da MPB |
O rumo da música popular brasileira
não anda lá essas coisas há um certo tempo e é preciso garimpar muito para
poder encontrar cantores que realmente salvam o estilo com músicas que elevam
nossos sentimentos e nos fazem pensar a respeito da vida, do tempo, das coisas
mais absortas. A prova mais cabal de que esse sentimento de renovação ainda
existe é o CD Novo Rumo (2017 / Trattore
/ 23,99) em que a cantora Glau Piva canta Caetano Júnior. Sendo um dos mais
belos CDs lançados no ano passado e um dos mais lindos e sentimentais que já
ouvi em toda a minha vida, o CD ganha notoriedade pela força de expressão na
voz de Glau e pela sutileza e habilidade nas canções de Caetano. A entrega total
da cantora fez toda a diferença neste trabalho, pois sua voz casou
perfeitamente com os recados anunciados nas canções como Novo Dia, Nuvem Branca ou
Contraponto, em que há o ar de uma
suavidade ímpar, tamanha a grandeza desse álbum. Totalizando 13 composições de
Caetano Júnior (uma melhor que a outra, havendo uma sintonia total entre as
faixas), Glau amarra com firmeza o uso de sua potente instrumentação primorosa
com as letras bem delineadas de Caetano, que escapam do óbvio e, em uníssono,
garantem um duelo de faixas inundas por um sentimento grandioso. Volátil em
todas as estâncias e nuances do disco, o registro deste trabalho formidável transita
por diferentes setores do cancioneio brasileiro, promovendo tanto músicas
carregadas de um lirismo autoral quanto de um foolk abrasileirado ou de um
sambinha moderno em ritmo jazzístico. Mesmo que a presença instrumental,
letrada e poética de Caetano Júnior esteja por todos os cantos do trabalho (ele
também está nos pianos), a voz de Glau é quem abocanha o resultado chamando as
atenções para um desfiladeiro de músicas redondamente lindas e assimétricas.
Mais do que figuras presentes nesse trabalho com a cara da música popular
brasileira, os comandos dos dois grandiosos artistas ganham destaques
mutuamente pelo conjunto da obra: a inteligência poética de Caetano que ganha
letra, forma e música e cai como uma luva na voz cintilante de Glau, que rebate
nos pianos e nos instrumentos focalizados no mais cristalino de sua voz. Há um
elo de bola de neve que combina com o resultado harmonioso e que gira em torno
da presença musical ricamente produzida por músicos de qualidade e competência
primordial. Os elementos de outrora personificados pelas letras de Caetano dão
à Glau Piva a interpretação romântica, excêntrica, melancolicamente louca e
passivamente sensível dentro de suas capacidades e imaginações, com uma
interpretação verdadeira de pura intensidade. A calmaria que prevalece em
algumas faixas surge com a exaltação da música anterior, quebrando qualquer
tipo de regra ou, na melhor das hipóteses, qualquer tipo possível de
linearidade das canções. O delinear
apoio em distintos e afáveis campos da música acaba posicionando o ouvinte
dentro de um variado universo sonoro, em que a transformação a cada audição
acaba sendo uma somatória de musicalidade e novas interpretações, onde
reconfigura suas lógicas de pensamento. Ou seja, você acaba ouvindo novamente
as faixas e uma nova roupagem lhe vêm à mente.
Esse vasto conjunto de elementos, sons e fórmulas que delimitam todas as
canções acabam por fim traduzindo a grandiosidade do registro de um dos
melhores trabalhos feitos para e pela música popular brasileira, transformando Novo Rumo em uma parte intrínseca de um
vasto e amplo momento musical.
Novo
Rumo (2017) / Glau Piva canta Caetano Júnior
Nota
10
Por
Marcelo Teixeira
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