A
responsabilidade que Maria Rita teve ao lançar Maria Rita em 2003, seu
primeiro disco, foi tamanha, tanto que se juntaram a ela os melhores
compositores, os melhores músicos, os melhores produtores e diretores musicais
e o resultado foi aquilo: um pouco de Milton Nascimento e Rita Lee (grandes
amigos de sua mãe, Elis), os músicos mais cobiçados do momento, de Lenine a
Marcelo Camelo, passando por regravações e pelo filho de Ivan Lins, Claudio
Lins (que ainda não emplacou como cantor). Ou seja, tudo aquilo que Elis fez em
vida, Maria Rita copiou a altura. Porém, sua responsabilidade estava só no
começo de uma tortura que estaria presente no segundo disco, cujo todos estavam
apreensivos para saber quais seriam suas novas músicas, novas regravações e
novos adereços.
Segundo
(2005 / BMG / 19,99) surgiu com tamanha expectativa, com uma capa muito bonita,
dando a dimensão do tamanho da competência vocal representada por um microfone
em uma das mãos, nos remetendo ao disco de Elis de 1979, ao vivo e um dos
melhores de sua carreira. Mas o que poderia ser um belo disco, na verdade, se
tornou um gigantesco fracasso. Desta vez, Maria Rita regravou pérolas de Chico
Buarque, colheu compositores novos e talentos como Edu Krieger e Francisco
Bosco (filho de João Bosco) e teve o prazer de gravar uma das melhores faixas
do disco, de Paulinho Moska.
Segundo: poderia ser melhor |
Antes mesmo de baixar a
poeira de seu disco de estreia (que vendeu 800 mil cópias), a crítica e o
público já esperavam ávidos pelo lançamento do segundo álbum de Maria Rita.
Isso aconteceu por dois motivos. O primeiro era para responder a uma pergunta:
será que Maria Rita permanecerá apenas como uma sombra da mãe, Elis Regina,
considerada a maior cantora brasileira? O segundo: a música brasileira precisava,
urgente, de novos ares, um respiro.
Segundo,
lançado em 16 de setembro de 2005, antes mesmo dessa data, já havia vendido 180
mil cópias em pré-venda. O público realmente estava ansioso. Todos tocando ao
mesmo tempo, como num show, sem emendas
nem consertos. Igual ao primeiro disco. Igual Elis fazia na década de 70.
Duvidei que ela fosse capaz
de manter a mesma identidade musical com um disco produzido por Lenine. Mas
manteve, até mesmo porque Lenine é um dos melhores artistas surgidos nos
últimos dez anos. Porém, mesmo com um Lenine ao lado, ouvi o disco atentamente
e até hoje algumas situações não me saem da cabeça.
O disco está simples demais
e se parece muito com o repertório da mãe, morta em 1982. Maria Rita está
cantando muito melhor do que no primeiro disco, mas precisa melhorar e parece
que estamos em meados de 1970 ouvindo um disco de Elis, tamanha a comparação
entre mãe e filha.
Dependendo do ponto de vista
de alguns, sua musicalidade, seu timbre, suas interpretações, intenções, sua
movimentação no palco, não deixam dúvidas do quanto ela tem semelhanças com
Elis. Mas Maria Rita tem características e identidade próprias, embora às vezes
se possa duvidar disso. Ouça Conta outra
da filha e em seguida Eu hein Rosa,
lançada em 1979 da mãe para entender melhor. É impossível não comparar.
Maria Rita me leva a cometer uma leviandade
moral ao estabalecer dois pesos e duas medidas. Comparado com o primeiro disco,
este se torna mediano. A opção pela simplicidade comprometeu algumas músicas
que passam desapercebidas. Comparado com o mercado de música brasileira atual,
o disco é bom, mas talvez nem isso.
A segunda capa |
Os destaques são Sem aviso, a ótima Muito
Pouco e Despedida (Marcelo
Camelo). Ao ouvir, não se assuste, são músicas nada comerciais. A surpresa fica
por conta de Minha Alma (a paz que eu não
quero) (O Rappa / Marcelo Yuka), sucesso pop-protesto de O Rappa. Tem ainda
uma faixa escondida no final do disco, Mantra,
uma pegadinha que Luciana Mello, Zeca Baleiro, Maria Gadú e outros tantos andam
fazendo e outra para baixar da internet mediante um código contido no encarte
do CD original.
Sem dúvida é um disco para
ter em casa e ouvir naquelas ocasiões que um som descontaminado da música pop é
necessário. Voz, piano, bateria e baixo. Em resumo, o disco é mediano, poderia
ser melhor, mas não é o melhor disco de Maria Rita, uma cantora que precisa
pensar e repensar sobre suas músicas, sua maneira de pensar e seu trabalho para
se tornar na maior cantora brasileira.
Faixas
·
01 – Caminho das
Águas (Rodrigo Maranhão)
·
02 – Recado (Rodrigo
Maranhão)
·
03 – Casa Pré-Fabricada
(Marcelo Camelo)
·
04 – Mal Intento
(Jorge Drexler)
·
05 – Ciranda do Mundo
(Edu Kriger)
·
06 – Minha Alma (O
Rappa / Macelo Yuka)
·
07 – Sobre Todas as
Coisas (Chico Buarque / Edu Lobo)
·
08 – Sem Aviso
(Francisco Bosco / Fred Martins)
·
09 – Muito Pouco
(Moska)
·
10 – Feliz (Dudu
Falcão)
·
11 – Despedida
(Marcelo Camelo)
·
12 – Conta Outra (Ao
Vivo) (Edu Tedeschi)
Direção Artística de Alexandre Wesley
Produção de Lenine e Maria Rita
Nota 7
Segundo / Maria Rita
Marcelo Teixeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário