Elba: coerente e precisa |
Elba Ramalho é uma das melhores e maiores cantoras
do país e que fez uma rica trajetória na música popular brasileira focada e
centrada no regionalismo musical de sua terra natal, Paraíba, para conseguir consolidar
o forró e o frevo de Pernambuco, de seu amigo Alceu
Valença, dentro de um patamar de altíssima grandeza. Não foi uma coisa
de um ano e meio ou dois anos para que isso acontecesse, mas sim, mais de duas
décadas para que Elba e companhia limitada conseguissem fazer com que a música
de raiz nordestina estivesse dentro das insígnias musicais brasileiras e fosse
referência lá fora. Conseguiu, com tamanha veemência e coragem, colocar o forró
e o frevo dentro das alegorias festivas nacionais e o estilo forró e frevo hoje
são patrimônios imateriais, coisa que muita gente praticamente desconhece.
Porém, o desabafo desta grande cantora pegou a todos de surpresa e com tamanha
voracidade. Por que, em épocas de festas juninas, o forró fora posto de lado
para servir ao público do sertanejo universitário? Não faz sentido termos que
comparecer às festas juninas espalhadas pelo estado de São Paulo e termos que
ouvir, com certa exatidão de cansaço auditivo, músicas de cunho duvidoso para a
festividade, com grande apelo ao erotismo e forte presença de dançarinas
seminuas dançando em horários inapropriados. A festa de Junho não pede isso,
mas somos obrigados a assistir tais aberrações. Precisamos estudar o conceito
de festas juninas locais fora do eixo Rio/São Paulo para que possamos entender
a significância que esse momento pede. Mas o desabafo de Elba é justamente o
contraponto desta minha colocação citada na frase acima: em sua cidade natal,
Paraíba, o forró deixou de ser uma coisa levada a sério e passou a ser um mero
ritmo qualquer, dando espaço e vazão para o sertanejo. Óbvio que existe espaço
musical para todos os ritmos, mas é preciso um certo respeito pela cultura do
outro, pelo espaço do outro, pela presença do outro. Nem todos que estão no forró
verdadeiramente dito gostam de sertanejo universitário e na certa muitos que
ali estão, querem ver as típicas danças tradicionais. Por que, então,
precisamos assistir a aberrações sertanejas em um momento dos forrozeiros? Elba
entrou no coro dos injustiçados e precisou vociferar para que tivesse sido
ouvida. Elba criticou duramente a programação de São João anunciada pelos
locais que tradicionalmente celebram as festas juninas como Campina Grande
(Paraíba) e Caruaru (Pernambuco) e ficou irritadíssima com o que ouviu: ao
falar sobre o assunto com diversos jornalistas, a cantora disse que não canta em Barretos por ser um evento
deles e que não gostaria de ir a uma festa de São João que não tivesse forró.
Assim como o frevo de Pernambuco é um
movimento do Carnaval nordestino, o forró é uma festa promovida pelo povo
paraibano e nordestino como um todo, marcando território em suas festas regadas
de tradicionalismo, festanças e alegrias. É preciso haver mais respeito. É preciso
ouvir o desabafo de Elba: Falei com a
Paraíba, reivindiquei porque o São João de lá está muito mais comprometido que
o São João daqui. Eu não tenho nada contra nenhum artista, nada contra nenhum
sertanejo. Tem espaço para tudo, no céu cabem para todos os artistas, ninguém
atropela ninguém. Porém eu não toco na Festa de Barretos, Dominguinhos também não cantava. A festa é deles, é
dos sertanejos, e eles têm bem esta coisa: essa área é nossa. Ícone do
forro nordestino, Elba tem livre caminho e arbítrio para falar o que pensa
sobre qualquer assunto e dentro de seu universo particular e muito conhecido, o
forró, ela tem acesso direto para dizer o que pensa. Aí quando chega aqui no São João em Campina Grande, não ter o Biliu de Campina, não ter Alcymar
Monteiro, eu reclamei bastante, cara, não ter os trios. Quando chega o
São João, se você não tem forró... Eu não quero ir a uma festa que não tenha
forró. Façamos das palavras de Elba uma profecia perante os arroubos da mídia
e dos farsantes musicais. O forró precisa ser respeitado!
O
desabafo de Elba Ramalho
Por
Marcelo Teixeira
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