Eis as caravanas de Chico Buarque |
Mesmo sendo chamado de machista por
metade daqueles que ouviram a faixa Tua
Cantiga, disponibilizada dias atrás pelas redes sociais, Chico Buarque
parece não ter dado muita trela e, mesmo com uma resposta singela sobre o caso,
fez seu comboio passar a frente de uma dúzia de insatisfeitos e lançar seu novo
trabalho à beira de muita crítica e muito blá blá blá. Depois de um hiato
silencioso de seis anos, eis que Chico Buarque,
o todo soberano cantor, poeta, político, compositor, amante das mulheres, dos
bêbados, dos trabalhadores, solta o verbo em sete canções inéditas e em duas
regravações. Não irei tratar aqui de um artista completo que Chico é, mas sim,
medir esforços para não dizer o quanto insatisfeito ficarão os insatisfeitos e
o quanto mais crítico fico com relação à sua música. Para todos os efeitos,
gosto das músicas e de tudo aquilo que Chico faça ou venha a fazer, mas meu
papel não é agradar aqueles que gosto ou defender um partido que na qual não
estou disposto a fazê-lo. Caravanas
(2017 / Biscoito Fino / 29,99) chega hoje às lojas físicas de todo o
Brasil trazendo um disco bom (não ótimo), pegando rabeira em discos anteriores
e se aproximando e muito de sua última criação, Chico,
lançada em 2011, que já vinha com um martírio penoso de ter semelhanças com
discos anteriores. Mas faz sentido o título que Chico deu ao seu novo trabalho:
caravana é o mesmo que comitiva, comboio, frota e algo que remete a uma viagem;
logo, Chico pega viagem em grandes distâncias para poder chegar a um lugar
comum, que é o coração de alguém. Quem? Vamos por partes: quando lançou o
espetacular As Cidades (1998), vindo de
uma alegoria fantástica e criativa de Carioca (2006),
o cantor não tinha nenhuma madame em mente. Alguns anos anteriores, Ivan Lins e Chico compuseram a emblemática Renata Maria, gravada magistralmente por
Leila Pinheiro em seu disco Nos
Horizontes do Mundo (2005),
cujo até hoje soa como uma homenagem a alguma namorada. Depois disso, ele fez
duas pérolas em formatos de trabalho (As Cidades
e Carioca) e parou no tempo. Em 2011 lançou
o morno Chico, em que nascera devido seu romantismo em torno da cantora e
compositora Thaís Gullín. O namoro não deu certo
e, cinco anos depois de separados, Chico conhece uma curitibana, com quem,
segundo dizem, mantêm uma relação amorosa. Eis o ponto de partida para que o
mestre do cancioneiro feminino tivesse prestes a voltar a compor. E isso de
fato aconteceu com o nascimento de Caravanas.
Será que Chico Buarque só vai conseguir compor quando estiver namorando? Seja
como for, Caravanas não é um disco maravilhaso,
mas como se trata de Chico Buarque, a espera é bem vinda e muito aguardada. Em
alguns casos há um certo acerto, como o caso de Dueto, música que não é inédita, gravado com sua neta Clara Buarque, em que neta mostra ao avô o lado real e
tecnológico das redes sociais. Outra sacada foi o também neto Chico Brown vir com sua esperteza em Massarandupió, onde o jogo de palavras
rima perfeitamente com frases bem construídas, mas que nos remete a Subúrbio, onde há funk, palavrão e tudo
aquilo que nunca esperamos de Chico, composta em 2006. Única faixa em espanhol,
Casualmente é uma mistura simplória
entre Havana e Brasil. E o samba-canção, marca registrada em discos iniciais,
marca presença aqui com Desaforos,
faixa que nos remete a Cotidiano.
Enfim, a Caravana de Chico Buarque
chegou, mas não trazendo tantas alegrias como era o esperado, porém, chegou um
momento que transcende sua verve criativa dentro do imaginário dos netos, tão
criativos quanto o avô, que, nesses últimos anos vem deixando a desejar, sem
perder sua importância dentro da música popular brasileira.
Caravanas
(2017) / Chico Buarque
Nota
7
Por
Marcelo Teixeira
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