Mallu: capa perfeita |
Quem me conhece sabe o quanto gosto
da Mallu Magalhães, mesmo sabendo que ela nunca
figurará entre as melhores cantoras do Brasil, muito menos terá a melhor voz
amanhã ou depois de amanhã. Mas na certa Mallu Magalhães é uma cantora
diferenciada nos dias de hoje e a prova disso é que a cada disco lançado, uma
pitadinha de indireta vai para alguém a quem ela gostaria de mandar uma direta
bem certeira. Entendeu? OK, eu explico. Mallu sabe que não é dessas cantoras
que agradam apenas pelo fato de ser uma cantora brasileira que tenta (eu disse
tenta) estar entre as tops das cantoras brasileiras. Ela não precisa,
evidentemente, de estar entre as tops cantoras brasileiras porque ela não
precisa estar nesse roll. Mas Mallu sabe que não é uma cantora dita
sensacional, ótima, perfeita e charmosa, mas sabe que tem muito mais qualidade
que muitas cantoras clichês que estão espalhadas por aí com roupas curtas e
sapatos altos, dançando com os quadris para lá e para cá. As indiretas diretas
certeiras de Mallu se fazem presente em todos os seus discos e desde quando ela
se entende musicalmente por gente que critica parcial ou totalmente o seu
trabalho. Acata quem quer, responde quem aceita. Mallu é muito mais que uma
cantora: ela é uma super cantora! Digo que Mallu é uma raposa e como todas as
raposas, ela aparece, mostra seu serviço e volta a ficar no seu cantinho. O
tempo para isso é tão rápido que você nem percebeu que ela passou. Poucos
conseguem entender o mundo filosófico de Mallu e é justamente este o grande insight
de sua carreira: ela é um mistério e ao mesmo tempo uma saborosa surpresa. Esqueça
se você vai ouvir o novo disco com a intenção de encontrar aqui sinais de Banda do Mar (2014) ou qualquer coisa que
Mallu já tenha lançado antes. Dividida entre Portugal, a bossa nova, o Rio de
Janeiro e São Paulo, o disco tem uma atmosfera caricatural dela mesma, ou seja,
de Mallu Magalhães dentro de sua melhor esfera: o da menina que se transforma
em mulher, a artista que se transmuta de mistérios e preciosidades, tal qual a
primeira peça teatral escrita por Clarice Lispector
(1920 – 1977), Pobre Menina Rica
(1930). Seria demais dizer
que Mallu Magalhães é a Clarice Lispector da música e perguntar que mistérios
tem Mallu? Seis anos após o lançamento do espetacular Pitanga
(2011), Mallu volta à cena musical com o gostosinho e diferente Vem (2017 / Sony Music / 29,99), disco
este que causa uma estranheza ao primeiro som justamente por ser o oposto
daquilo que a cantora vinha produzindo anteriormente. Esta mudança quase
repentina em seu estilo tem um propósito: transformar-se em uma cantora sólida
para as futuras gerações, das pessoas que hoje não tem cérebro, mas que amanhã
perceberão o quanto perderam em não ouvir suas músicas hoje.
Vem
(2017) / Mallu Magalhães
Nota
10
Por
Marcelo Teixeira
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