Dos medalhões da MPB no quesito discos,
ainda cismo em dizer que Marisa Monte têm apenas dois excelentes álbuns, sendo
o Barulhinho
Bom (1996), que veio logo depois do clássico Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e
Carvão, lançado em 1994. Tido como um dos melhores e o mais bem
acabado, este disco marca algumas mudanças da Marisa, tais como a primeira
produção dela própria, na verdade uma coprodução com Arto Lindsay (que já
produzira o anterior, Mais), além de reafirmar seu
trabalho autoral e ao mesmo tempo ampliar o universo de seus colaboradores. Nos
bons tempos do mercado musical físico (o virtual continua a toda!), o disco
vendeu mais de um milhão de cópias.
O disco inicia com Maria de verdade (Carlinhos Brown,
parceiro cada vez mais presente na sua vida e obra), sutil, com voz e violão a
princípio, depois permitindo a entrada da banda inteira, tornando a música até
dançante, com um baixo de dar gosto. Belo início. Na estrada (MM/Brown/Nando Reis, este também participando mais
intensamente), mais uma quase acústica e cheia de vozes extras da própria
cantora. Ao meu redor (Nando Reis)
traz como diferencial um trompete sinuoso e a mesma atitude acústica.
Saltitante.
Segue o seco (Brown) deu origem a
um vídeo lindíssimo, sem esquecer que é uma bela e forte canção, que logo se
tornou um clássico. Berimbaus e vozes de Brown ao fundo, antecipando o que
seriam os Tribalistas. Uma música de Lou Reed, Pale blue eyes, traz um aceno à cena americana. Boa e surpreendente
escolha. Em seguida, a belíssima versão de Dança
da solidão (Paulinho da Viola), com o auxílio luxuoso de Gilberto Gil no
violão e vocais de apoio, sensacional, um dos pontos altos do disco!
O melhor álbum de Marisa Monte |
De
mais ninguém dialoga com o grupo Época de Ouro, do choro
clássico carioca, mesmo a música sendo de Arnaldo Antunes e Marisa. Quase
anacrônica, mas cabe no projeto abrangente do disco. Alta noite já havia sido gravada pelo autor, Arnaldo Antunes, mas
aqui ganha uma versão linda, acredito que com o violonista Romero Lubambo.
Belíssimas cordas ao fundo. O céu
(Marisa Monte/Nando Reis) é mais alegre e quase balançada, você fica querendo
dançar, seu corpo começa a querer sacudir, bem legal. É uma dessas músicas que
ficam na lembrança e a gente se pega cantarolando a todo minuto. Sacada genial. Bem
leve
(MM e Arnaldo Antunes) é fiel ao seu nome, meio valsa, violãozinho
discretíssimo e um pandeiro dando o ritmo. Enquanto que Balança pema (Jorge Ben) traz o balanço de volta, com violão,
guitarra com wah-wah e bateria, com várias vozes da Marisa. Enquanto isso (MM/ Nando Reis) traz mais
vozes e uma narrativa bem legal (incluindo trechos em inglês by Laurie
Anderson), além de belos violões.
Pra terminar com extrema
classe, Marisa traz as pastoras da Velha Guarda da Portela pra fazer uns vocais
lindos nessa canção que poderia ser um samba-enredo, se o carnaval de desfile
suportasse sutilezas e cadenciamentos mais lentos. Esta melodia foi um balão de ensaio do disco no qual a Marisa
produziria esta mesma Velha Guarda, Tudo azul.
O
Brasil não é só verde, anil e amarelo. O Brasil também é cor-de-rosa e carvão. Dos
versos dessa música, Seu Zé, Marisa
extraiu o título do disco e a partir dai passou a adotar títulos longos para
todos os seus próximos trabalhos. Muito mais do que qualquer conotação
política, esse título traz em si uma consideração estética, exemplificada
através de suas 13 canções. Nomes consagrados participaram, como Gilberto Gil,
Carlinhos Brown, Nando Reis, Paulinho da Viola, Naná Vasconcelos e Laurie
Anderson. Na minha opinião, até hoje, esse é o melhor CD que Marisa Monte já
gravou.
Verde
Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão / Marisa Monte
Nota
10
Marcelo
Teixeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.