quinta-feira, 30 de junho de 2016

Maria Rita não empolga em disco ao vivo de samba


O samba de Maria Rita: particular
Maria Rita é sempre assim: quando acerta em um disco, erra no outro.  Não que seus discos sejam totalmente ruins, pelo contrário, mas é que algumas canções não caem bem em sua voz, ou a capa é estranha ou o sorriso é forçado ou alguma coisa não está bem, mas nunca que seus discos sejam ruins ou cansativos. Mas achei desesperada a ação da cantora em lançar um disco praticamente igual ao que ela acabara de lançar: Coração a Batucar (2014) é um dos melhores discos da carreira da cantora, mas colocar no mercado um disco ao vivo com as mesmas cançõe que o anterior e com algumas pinceladas de outros discos, não caiu bem e faz com que esse seja um desperdício musical total. Além de ter uma capa simples entre cores funebres e estranhas, Maria Rita errou feio ao cantar o mesmo repertório do disco anterior, chegando a ser caricato, paupérrimo, sinistro. Com uma pressa imediata para lançar o novo disco, a gravadora cometeu uma das maiores gafes do mundo da música: Samba em Mim Ao Vivo na Lapa (2016 / Universal Music / 29,99) teve a oitava faixa, Coração a Batucar, trocada por Num Corpo Só, que não está originalmente neste repertório. A gravadora já se prontificou a ajustar o erro e quem comprou o CD com esse defeito, poderá fazer a troca através do site da Universal.  O Samba em Mim não é um bom disco, não há sustância para ser um disco de samba da melhor qualidade, porque Maria Rita já o fez anteriormente. Mas há naturalidade aqui: Maria Rita nos apresenta em O Samba em Mim um samba atualizado e na mais humilde das palavras, particular e familiar, que presta uma consideração à tradição sambista e que assume o livre-arbítrio de filtrá-la a partir da marca incomum de sua assinatura como cantora. Friso mais uma vez que esse não é o melhor disco da cantora, mas que este está interligado à Samba Meu (2007) e desde então está presente nos discos que produziu a partir deste. Samba Meu foi o primeiro grande desafio de Maria Rita no universo do samba e com este disco ela alcançou notas ainda maiores não apenas pessoal, mas com a conquista de público fiel ao seu trabalho.

 

O Samba em Mim Ao Vivo na Lapa (2016) / Maria Rita
Nota 7
Marcelo Teixeira

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Os Pássaros Urbanos (2014) de Raimundo Fagner



Os pássaros de Fagner
Raimundo Fagner é um dos melhores cantores nordestinos, sem tirar os méritos de outros grandes artistas de sua geração. Mas a capacidade vocal e a extensa lista de sucessos refletem em sua carreira sólida o status de um dos melhores de todos os tempos. Depois de quase cinco anos sem lançar um disco, o cantor e compositor cearense volta com a prioridade de reconquistar o público perdido, angariar mais ouvintes à sua música e disposto a provar que sua criatividade não se esgotou. Em Pássaros Urbanos (2016 / Sony Music / 22,00), o cuidado com a escolha de um repertório bem selecionado com uma sonoridade perfeita e letras bem arquitetadas, o cantor revisita o cenário nordestino como um pássaro musical marcado pela cultura de sua geração. O disco contém 11 faixas, sendo três regravações, que resumem quatro décadas de estrada de um dos nomes mais bem-sucedidos da história da MPB.  Fagner tinha sede de se lançar de novo ao seu público e muita vontade de jorrar para fora toda a sua cantoria embutida pelo longo hiato na qual submeteu. Pássaros Urbanos versa sobre amores urbanos com sons contemporâneos, um tom predominantemente romântico, que é a marca registrada do cantor. O repertório traz parceria com Fausto Nilo (Balada Fingida), Zeca Baleiro (Samba Nordestino) e Belchior (Paralelas), sendo uma releitura de um dos clássicos do repertório deste. Pássaros Urbanos mostra toda a versatilidade de Raimundo Fagner perante a sua regionalidade e toda a sua superação musical ao voltar ao cenário da MPB com um álbum de inéditas. O disco é uma verdadeira obra prima. Os pássaros de Fagner resolveram voar sem uma parada obrigatória.

 

Pássaros Urbanos (2014) / Fagner
Nota 9
Marcelo Teixeira


 

sábado, 18 de junho de 2016

A suma importância de Marina Lima


Marina: popular, elitista e agressiva no Rock
Há uma atmosfera que ronda a música popular de alma roqueira e agressiva de Marina Lima e que está gravada em praticamente toda a sua discografia, não deixando margens para que o seu universo se perca por entre ruínas dissoluveis e papiros transgressores. Para os anos de 1980, Marina Lima representou não apenas a alma roqueira da cantora brasileira como bem salientou que não era preciso ter voz para alcançar altas notas ou que fosse um mero produto do mercado naquele momento. Marina represento mais do que sua própria música exigia: representou o lirismo e a ingenuidade do rock na sua mais plena satisfação. A suma importância de seu nome na música brasileira representa a maior divindade corporativa de um segmento que ainda persiste até hoje, com outras nuances e outros objetivos. Sim, o rock mudou. A música brasileira mudou. Se de um lado havia uma Rita Lee tresloucada e uma Ângela Ro Ro que bebericava dessa mesma fonte mas numa outra vertente mais romântica, de outro lado e com mais conformismos, tínhamos Marina Lima, cantora composta dentro de sua neutralidade, que cantava auilo que sua voz permitia e aquilo que sabia que o povo queria ouvir. Por traduzir tão fantasticamente o cenário carioca, a cantora nascida no Piauí revela em seus discos o estilo único da mulher que consegue compor em sua forma magistral. Marina foi a nordestina que mais bem traduziu o Rio de Janeiro em sua forma geográfica, geométrica, plural, popular, elitista e hermética. Suas músicas são o reflexo poderoso de um tempo que o próprio tempo tenta apagar, com algumas ressalvas conservadoras e com alguns aspectos privativos. Atrevida, sensual, erótica, provocadora, instigante, Marina Lima foi tudo e mais um pouco em sua meteórica carreira blindada entre a solidão na arte de compor e a alegria na arte de se lançar. Marina conheceu a tristeza e as amarguras de uma década marcada pelo bom som e pela decadência da boa música, mas nem por isso sua majestade gloriosa derrapou: ela soube o momento de parar para dar lugar às novas vozes. Vozes essas que não chegaram ao seu estrelismo, ao seu magnetismo e nem ao seu talento. Marina Lima foi única, lunar, absolutamente ela. Longe dos holofotes devido a um grave problema de saúde nas cordas vocais e depois de uma depressão severa, a cantora ainda  lança discos (menos convidativos, mas originais) ainda é referência quando se fala de rock, de musicalidade nacional e de competência artistíca. Para quem não a conhece, seu nome é Marina Lima.
 
A suma importância de Marina Lima
Por Marcelo Teixeira

domingo, 12 de junho de 2016

O legado de Vanusa

O legado de Vanusa
São poucas as cantoras que conseguem unir presença de palco e voz marcante, seguindo de uma expressão facial caracteristica para cada canção e ter carisma, artifício que faz com a artista seja ainda mais valorizada pelo seu canto, pela sua arte. Em uma época em que cantoras tinham mais talento vocal e glamour personificado, muitas delas acabavam duelando-se entre si para poderem adquirir status de melhor cantora do momento. Isso foi há mais de 30 anos, porque hoje em dia o que permanece inato é o legado que cada uma trouxe na bagagem e o que cada uma pode representar na vida e na cultura intrínseca de cada individuo. Vanusa foi mais que uma cantora: ela foi uma vertente de explosão metafísica que conseguia explanar com serenidade e fervor o seu público, uma mulher de fibra e de potência vocal impressionante e uma cantora de pulso vibrante, corajoso e audaz. Vanusa foi a cantora que mais brilho teve nas décadas de 1970 e início da década de 1980. Foi, acima de tudo e de todas as outras presentes, a cantora romântica que cantava em protestos, cantava em favor de uma ordem e cantava para além do amor. Foi uma cantora que levou muitas pessoas ao delírio, ao estarrecedor mundo do obscuro com sua interpretação inquietante e sua doçura plena. Vanusa foi uma cantora. E ainda é uma cantora. Antes dessas novas cantoras pensarem em pegar em um microfone, elas precisam ouvir Vanusa, degustar Vanusa, entenderem Vanusa. E muitas podem até se comparar à Vanusa futuramente, mas Vanusa é apenas uma: ela própria. Sendo uma vertente única e uma exemplar de musicalidade de um tempo, Vanusa é preciso ser redescoberta pelos novos ouvintes que ainda insistem em dizer que cantoras bregas de hoje em dia são maiores que as de antigamente. Vanusa é sinônimo de música de verdade, de respeito e de categoria.  Musa da Jovem Guarda, Vanusa é a representação formal de uma cantora que conseguiu fazer de sua voz um arsenal a favor do Brasil e teve a audácia de duelar com cantores para estar no topo mais alto possível de seu enorme sucesso.  Depois de dedicar uma vida inteiramente para a música, sua estrela derrapou e, em 2009, o país a espinafrou depois que ela cantara o Hino Nacional erroneamente, em uma sessão na Assembléia Legislativa de São Paulo. Vale lembrar que nessa época, a cantora enfrentava uma depressão severa, agravada pelo uso de remédios controlados. Nos dias de hoje a cantora é mais conhecida por esse episódio do que pelas belas letras que cantara no passado.  O nome Vanusa já está marcado definitivamente na música popular brasileira como sendo uma das mais brilhantes cantoras, uma das mais poderosas vozes e uma das interpretes mais sensacionais deste mundo.  Vanusa é a estrela maior de toda uma geração, uma artista incandescente e uma cantora magistral. E esse é o seu maior exemplo, seu maior legado.

 

O legado de Vanusa
Por Marcelo Teixeira

 

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Os mistérios e as coleções de Marisa Monte


Marisa: coleção de diva
Marisa Monte é uma cantora que guarda na manga muitos segredos musicais. Quando ninguém espera nada dela, eis que ela surge e consegue se safar do ostracismo opereta e se torna mais uma vez a rainha do cenário musical. São poucas cantoras que conseguem fazer isso e Marisa Monte se iguala à Adriana Calcanhotto no quesito originalidade quando se pensa que ambos os repertórios estão fadados ao cansaço ou ao celibato das velharias. Não é fácil ser Marisa Monte nos dias de hoje, ainda mais com tantas cantoras boas surgindo a cada esquina achando que serão Marisa Monte. Ser Marisa Monte é um árduo trabalho e uma dificílima tarefa. Fã de Anitta e de seus funks modestos, Marisa Monte conseguiu driblar seus fãs mais uma vez e lançou Coleção (2016 / EMI / 35,99) com pompa de grande estrela. Mas o que a cantora nos trás é uma coleção de músicas gravadas em outros carnavais e que não foram postas em discos. Não importa: a capacidade vocal da cantora e as canções já valeram pelo ano inteiro e só comprova a essência de Marisa em um país massacrado musicalmente. Sendo uma das maiores vozes do país, Marisa Monte lança Coleção em um momento que a própria música popular brasileira pede socorro às grandes vozes femininas, tendo em vista que apenas as medianas e popularescas lançaram discos paupérrimos. Marisa vai no contra fluxo deste paradigma e entra de cabeça no rol dos melhores CDs lançados até agora neste ano. Não chega a ser o melhor de sua carreira, mas um dos melhores dos últimos anos colocando em pauta todo o seu trabalho. Vale a pena ouvir e (re)ouvir as músicas deste álbum como sendo um acalanto para nossos ouvidos, um refresco para nossa alma e um sentindo aquele sentimento de que a música está salva de grandes impropérios suburbanas. Marisa Monte guarda segredos e contém muitos mistérios. Mas de uma coisa é fato: Marisa Monte é diva.

 

Os mistérios de Marisa Monte em Coleção (2016) / Marisa Monte
Nota 10
Marcelo Teixeira