quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A sensível faceta de Filipe Catto



Filipe: sensibilidade à flor da pele
 
Cantor aclamado pela crítica e pelo público e que faltava dentro da MPB, Filipe Catto sentia que sua música iria desaguar em mares profundos quando lançou o primeiro disco, Fôlego, que foi tão aguardado quanto qualquer outro disco. Hoje, lançando Entre Cabelos, Olhos e Furações (2013 / Universal Music / 23,99), Filipe se encontra mais autêntico e sem os trejeitos de uma Elis ou de um Ney e carrega no semblante a tristeza de suas letras e melodias, com uma performance marcada pela emoção e interação constante entre o público/artista, cujo mostra a própria trajetória. O CD foi registrado em DVD e gravado em fevereiro deste ano no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo e foi muito bem elaborado por sua equipe, que chega a dar arrepios esfuziantes.  Filipe é considerado um dos artistas mais talentosos de sua geração e seus discos são prova disso, pela técnica vocal e pelas comparações do início de carreira. A seleção de músicas escolhidas para o novo projeto resume a caminhada do cantor desde o seu começo nos bares até hoje, além de composições próprias e das selecionadas que marcaram sua vida, como as de Roberto Carlos e Fábio Junior.
Adorador de Milton Nascimento e tendo como influência maior o cantor e compositor mineiro, o gaúcho gosta de sua voz e gosta de se ver cantando, mas odeia ser comparado a Ney Matogrosso e Elis Regina. Pudera, o talento de Filipe está mais do que comprovado e não precisa de comparações para chegar a um denominador comum.
O interesse por cantores de sua geração, como Karina Buhr (Eu Menti pra Você), Pélico (Sem Medida) e Nescafé (Apanhador Só) revela o entusiasmo do cantor em experimentar sonoridades novas e que refletem em sua voz. Para o artista que tem no palco uma de suas maiores vertentes, a gravação deste novo disco agrega a uma estratégia para revelar o melhor de sua performance. Uma dessas impressões performáticas estão registradas no DVD e demonstra sua entrega total à sua música.
Os dois trabalhos anteriores (Fôlego e Saga), serviram de base para Entre Cabelos, Olhos e Furacões, título tirado da letra de Ave de Prata, composta por Zé Ramalho e interpretada magistralmente por Filipe em Fôlego num registro fenomenal. E sem sombra de dúvidas, Filipe Catto já entrou para a história da música popular brasileira como um todo: o melhor dos melhores.
 

Entre Cabelos, Olhos e Furacões / Filipe Catto
Nota 10
Marcelo Teixeira

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Aláfia: o encontro entre o Brasil e a África


Jogo de palavras e bela voz de Xenia
No dialeto africano iorubá, Aláfia significa felicidade ou caminhos abertos e é bem esta a proposta que faz o grupo Aláfia, que estreia em disco grandioso e que tem como meta desencandear e se aprofundar nos ritmos da África de Nelson Mandela e também no funk dos anos 1970 e no hip hop norte americanos, mas com um toque extremamente brasileiro. Aláfia (2013 / YB Music / 26,99) é um disco gostoso de ouvir e ouvir e repetir, mas não chega a ser um dos melhores lançamentos do ano, embora seu estilo seja conservador e transgressor para os padrões musicais de hoje em dia. Um trabalho com a antena ligada em um cosmopolitismo de diversos ritmos conceituados, como o samba, o funk, o reggae e ao mesmo tempo viaja em um conceito de brasilidade sem muita afetação. O vocal de Xenia França, uma negra lindissima que tem uma voz e uma presença de palco impressionantes, vai numa potência inabalável na faixa Ela é Favela ou suavemente doce em Homem Que Virou Música, em que mistura uma voz sensual e sexy. O disco tem um potencial para alguns hits, como Baile Funk, Mais Tarde e a própria Ela é Favela, que tem participação de Lurdes da Luz. Este disco de estreia foi gravado ao vivo em estúdio e ainda que não traga uma grande mudança dentro da estética brasilidade-suingado-intercâmbio-afro, é um balaio interessante e muito bem criativo.

Outro grande feito achado no grupo Aláfia é saber aproveitar a tradição da música negra dentro da cultura musical brasileira e fazem tudo isso dentro de um vínculo com a África sem pretensão. O jogo de palavras ritmadas é de arrepiar e as letras dificílimas de cantar por vezes, fazem toda a diferença aqui. Mais do que se apropriar da estética e da linguagem africanas, o grupo parece ir além e se impregna das raízes no discurso, nas vestes, nas letras e em cada momento do disco.

A África está por todo o canto. Feche os olhos e sinta a música de Aláfia.

 

Aláfia / Aláfia
Nota 7
Marcelo Teixeira

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Acústico Cássia Eller (2001): grande voz de uma artista (quase) completa


Cássia mereceu o Acústico MTV
Um artista nunca sabe quando será seu último trabalho, mas certamente sabe que está fazendo um trabalho diferenciado dos anteriores e foi justamente esse o pressentimento que Cássia Eller teve ao fazer o Acústico MTV, um dos maiores sucessos da cantora até hoje, mesmo após sua morte precoce. De todas as cantoras que surgiram dos anos 1980 para os anos 1990, Cássia Eller foi, sem dúvida, a maior. Marisa Monte e Adriana Calcanhotto surgiram praticamente no mesmo tempo, no final de 1987 para 1988, mas ambas seguiam uma linha mais voltada para a MPB, enquanto Cássia vinha com seu vozeirão com tudo para dentro do rock, tendo como amigos Cazuza, seu maior ídolo. Sua voz se coloca juntamente além da MPB e atravessa fronteiras jamais calculadas por críticos de arte e mesmo cantando samba, forró, countruy entre outros ritmos, Cássia foi acertando de uma maneira geral em sua carreira, especialmente nos shows, aonde sua performance era sempre imbatível (tenho fotos de quando ela fez o último show no Sesc Interlagos, repleto de pessoas). Apesar de sua boa reputação como sendo uma das cantoras mais prestigiadas de seu tempo, este reconhecimento só veio com o disco Com Você Meu Mundo Ficaria Mais Completo (1999), cujo a participação do ex-titã Nando Reis foi primordial. Talvez Nando Reis, à procura de uma grande voz para suas canções, não tenha percebido que estaria por incentivar a carreira de Cássia, mas a bem da verdade, é que o disco lançado em 1999 trouxe para a seara musical um novo folêgo, com a misteriosa volta por cima de Cássia, depois de vários discos sem tanto êxito.
Acústico MTV Ao Vivo Cássia Eller (2001 / Universal Music / 22,99) tem seus defeitos básicos, o que acabou dificultando a carreira de Cássia. Primeiro que a música E.C.T foi gravada pela terceira vez e mesmo tendo uma nova roupagem, a música ficou chata e um pouco parecida com as versões anteriores. Malandragem e Todo Amor que Houver Nessa Vida tiveram novas releituras e mesmo assim passaram pelo constrangimento de serem capengas. Vale ressaltar que Malandragem fora uma música composta por Cazuza dada de presente para Angela Ro Ro, que se recusou a grava-la. Anos depois, Cássia Eller a gravou, depois de achar a versão na casa de Frejat e o sucesso incomodou Angela (ela jura que não). Seja como for, as harmonias das canções citadas acima fizeram com que o disco ganhasse um tom melancólico, estranho, inquieto.
Talvez a faixa mais interessante de todo o disco e totalmente inédita na voz de Cássia, seja as releituras caprichadas de Partido Alto (de seu ídolo Chico Buarque) e Top Top, que os Mutantes gravaram há anos atrás. Vá Morar com o Diabo, um clássico de Riachão, também ficou divertida e hilária, assim como as sonoridades encontradas em duetos entre a MPB atual e contemporâneo: o rap paulista Xis (que deu uma bela sumida depois da morte da cantora) e do mangue-beat do grupo pernambucano Nação Zumbi. As regravações do sucesso de Edith Piaf, Non, Je Ne Regrete Rien e dos Beatles, Sgt. Peper’s Lonely Hearts Club mostram a interatividade e intelectualidade de Cássia.
Seja como for, Acústico MTV poderia ter sido melhor aproveitado se Cássia Eller não tivesse feito alguns erros à época, mas mesmo assim, o disco ainda continua sendo uma ponte de referência para todo o trabalho conquistado pela grande interprete.

 

Acústico MTV / Cássia Eller
Nota 7
Marcelo Teixeira

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O pagode de Leo Russo


Voz de preto, jeito moleque
A semelhança entre Leo Russo e Diogo Nogueira é enorme. Os dois tem olhos azuis, pele clara, são sambistas e, de quebra, quase a mesma voz. Mas isso não interfere em ambos os talentosos artistas, até mesmo porque ambos são excelentes cantores. Leo Russo está lançando um CD na praça em que convidou bambas cariocas para um divertimento e dessa festa nasceu parcerias musicais incríveis, como a participação de Dudu Nobre, o próprio Diogo Nogueira e a Velha Guarda da Portela, fazendo uníssono em algumas das belas canções. A única coisa chata na carreira de Leo é a sua semelhança com o filho ilustre de João Nogueira, porque o resto ele comanda a festa na melhor maneira possível. Leo Russo lança Leo Russo (2013 / Independente / 24,99) com pompa dos grandes sambistas do Rio e faz deste momento um único caminho para trilhar o sucesso. Tirando as aparências de lado, Leo canta e encanta nas catorze faixas que compõe o disco e nos presenteia com um pagode pé de serra feito pelos grandes bambas de outros carnavais, como Paulinho da Viola, Martinho da Vila e Roberto Ribeiro. De uma coisa é fato: Leo Russo é um expoente desta geração a qual não viveu musicalmente, mas que cresceu ouvindo o melhor do pagode e do samba de sua cidade. O Rio de Janeiro produziu os melhores e maiores letristas, sambistas e puxadores de samba  de todos os tempos e Leo Russo veio para brilhar e dar continuidade a este segmento.

Voz de preto e jeito moleque, Leo Russo é um loiro que caiu no samba sendo influenciado por Zeca Pagodinho. Com um pandeiro nas mãos, o cantor reconhece que é preciso batalhar bastante para se ter um lugar ao sol. Dono de uma voz malemolente e contagiante, Leo faz de seu samba um tom maior para se firmar na música como sendo ele próprio mais um integrante das rodas cariocas. Suas letras são convidativas e sua alegria é presente nas faixas que encantam o ouvinte. Primeiro disco do cantor e compositor, Leo é um sambista romântico que consegue transformar as dores de amor por um bom partido alto.

Como vertente musical, Leo nasceria exatamente desta manifestação popular completamente ao seu estilo e registrando os acontecimentos musicais ao seu redor e sua música veio batizar esponteneamente o novo estilo de se fazer música, inovando o pagode derivado do samba carioca. A malandragem dos morros cariocas fez de Leo Russo ser um dos mais autênticos sambistas da atualidade e seu disco comprova esta autenticidade. Seu pagode, como manifestação cultural brasileira, aparece justamente no momento em que o estilo pede uma inovação no estilo.

Sua voz agrada, seu estilo agrada. Leo Russo é um cantor brasileiro, que canta samba ou pagode da melhor qualidade possível e isto reflete como sendo o melhor momento tanto para ele quanto para a nossa música popular brasileira.

Salve, salve, Leo Russo.

 
O pagode de Leo Russo / Leo Russo
Nota 8
Marcelo Teixeira

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Eu Não Peço Desculpas (2002), de Caetano Veloso e Jorge Mautner


Um pouco de loucura dos dois
Há um pouco de loucura e saliência no CD Eu Não Peço Desculpas (2002 / Universal Music / 24,99) lançamento conjunto entre os amigos Caetano Veloso e Jorge Mautner. Na época de seu lançamento, as entrevistas conjuntas e os shows nos palcos Brasil a fora, a parceria entre Caetano e Mautner guardou contrastes quase emagadores, para não dizer constrangedoras, de uma química entre dois luminares de abajures: um aceso, outro apagado. Há bem da verdade, o CD é pautado pela desenvoltura de ambos artistas completos, ricos musicalmente, mas que desse toldo apenas Caetano conseguiu uma magnitude ampla, aonde conseguiu sobreviver às custas do que pensava em música, arte e cultura. Mautner foi massacrado pela crítica conservadora, pelo seu estilo, pelo seu canto e pela sua pessoa e isso ofuscou e muito a sua bela carreira. Passados mais de décadas, os dois se juntaram para fazer um disco atemporal, contraditório e surpreendentemente belo. Esse é o motim para o descrever Eu Não Peço Desculpas, um disco que pode soar engraçado, como pode ser estranho para outros ou até mesmo maravilhoso para alguns. O fato é que o disco, hoje, não é tão bem vinda na carreira dos dois artistas, pois suas músicas ficaram esquecidas.

O resultado é um disco que passeia por várias praias sonoras, num vôo despretensioso, mas repleto de segundas intenções e ironias e é justamente isso o que faz toda a diferença aqui. As letras são brincalhonas, escrachadas até, mas falando sultimente de assuntos muito sérios, como no caso de Doidão ou Tarado. A liberdade lúdica é maior ainda em relação ao espectro sonoro. Do pseudobrega Tudo Errado aos trique-triques eletrônicos de Manjar dos Reis, tudo soa com um frescor ausente há tempos da obra do baiano. Mas nem tudo é brincadeira. Lágrimas Negras, na voz de Caetano, ganha um tratamento sóbrio e delicado. E há um certo tom pesado na releitura de Cajuína, com Mautner, repleta de tons orientalizantes. Mas o que sobressai mesmo são os gracejos bobíssimos e justificados – do pop farofento de O Namorado à palhaçada explícita de Tarado. E também nas boas viagens sonoras, como o ar renovado concedido a Maracatu Atômico (com tambores baianos e não pernambucanos) ou a experimentação pós-tropicalista (ao menos na alma) de Feitiço.

O disco em parceria dos dois cantores é, no mínimo, curioso.

 

Eu Não Peço Desculpas / Caetano Veloso e Jorge Mautner
Nota 7
Marcelo Teixeira

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Tudo (2013) o novo CD de Joyce!


Joyce: maravilhosa sempre
Todo disco da cantora Joyce desde o seu lançamento como interprete é bem vindo, assim como suas canções compostas solo ou em parceria com os grandes músicos brasileiros ou internacionais. Mesmo com a onda de cantoras pop ou algumas que surgem do nada dentro da MPB e desaparecem logo na primeira esquina, Joyce é o oposto disso tudo e continua firme fazendo discos cada vez mais autênticos, maravilhosos e audaciosos. Sucesso de primeira grandeza no Japão e esquecida por muitos aqui no Brasil, Joyce ressurge como quem nada quer no disco Tudo (2013 / Far Out / Biscoito Fino / 49,00). Um retorno muito bem vindo ao jazz brasileiro, a cantora se refere a sua música como sendo MCB (Música Criativa do Brasil) e consegue atrair ouvidos sensíveis por onde passa pelo conjunto da obra. Muitas vezes, Joyce encanta apenas pelo solo que faz entre sua voz, seu banquinho e seu violão. Sua voz é um conjunto variado íntimo que fornece um lembrete do alcance vocal e de sua habilidade instrumental, igualmente suave e sublime, nos trazendo um pouco do frescor, da habilidade, do carisma e da musicalidade vibrante que sua música nos transpassa. Há beleza em Tudo, jma beleza real que Joyce traz com franqueza e paixão para os que já se tornaram clássicos no disco.

Joyce Moreno lança Tudo, o primeiro CD de canções inéditas em dez anos . Como o nome já diz, Tudo remete à diversidade de gêneros musicais presentes no belo repertório, que tem desde samba até galope nordestino, jazz, choro, bossa nova. O álbum chega ao Brasil depois de ter sido escolhido pelo público da cantora (que exigiram a vinda do CD do Japão). O novo disco trás canções inéditas e que com certeza encantaram os que ainda não conhecem a obra e a musicalidade de Joyce. Das treze faixas, oito têm letra e música da cantora, mas o disco também tem canções com parceiros de longa data, como o poeta Paulo César Pinheiro (Quero Ouvir João e Dor de Amor e Água), Zé Renato (Pra Você Gostar de Mim) e duas novas parcerias, com Nelson Motta (Estado de Graça) e Teresa Cristina (Sem Poder Dançar).

Tudo dialoga com o uso de vozes, seja com um naipe de instrumentos, como em Claude ET Maurice e no galope Boiou, ambas com arranjos de Maurício Maestro ou até na emblemática Puro Ouro, com a participação do coro do coletivo Segunda Lapa, que tem como músicos os sensacionais João Cavalcanti, Pedrinho Miranda, Moyseis Marques e Alfredo Del Penho.  O samba marca presença também em Quero Ouvir João, que traça uma espécie de mapa dos sons atuais do Rio de Janeiro (que Joyce tanto ama), que mistura tanto o pancadão do funk quanto a levada do reggae. Em Dor de Amor É Água, um samba-blues, a participação de Zé Renato, com quem Joyce também divide a parceria em Pra Você Gostar de Mim, só faz reafirmar a existência de ambos dentro da MPB.

Vale à pena ouvir Tudo pela simplicidade com que o disco nos conduz a variantes de nossas vidas e pelo conjunto de ser uma obra puramente brasileira, de uma cantora brasileira, com um sotaque brasileiro, bem ao estilo de que tudo merece sua atenção. E Joyce Moreno merece.

 



Tudo / Joyce Moreno

Nota 10

Marcelo Teixeira

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

As ótimas melodias de Olivia Genesi em novo CD




Melodias (2013): vale a pena ouvir
Gosto de cantoras que batalham, que vão atrás do público, que cantam nas praças públicas, que cantam em pequenos espetáculos, que cantam com a alma, com o coração, com o brilho único que nos seduz e que nos levam a crer que a música brasileira é capaz de nos entreter e dizer com orgulho que temos a melhor música do mundo. Olivia Genesi lança seu oitavo disco e nos brinda com uma sofisticação ulterior que me deixa embasbacado a começar pela capa: um azul cintilante, um mar limpo, uma sensação de calmaria. Melodias de Sol em Pleno Azul tem cara de São Paulo, a cidade mais cinza do mundo e Olivia materializa mais uma vez a sua influência musical, trazendo um pouco de pop, de jazz, de bossa em um estilo próprio e audacioso, realista e inovador, sentimental e puro, cristalino e original. Neste delicioso disco, os músicos Bruno Balan, Fábio Dregs, Felipe Alves, Luca Batista e Luís Dutra, Eric de Oliveira e Zé Luiz Marmou fazem participações em músicas como Literatura, que tem uma pegada eletrizante de guitarra, Perto da Orla, uma lindeza profunda, que nos remete à eventuais dias de brisa e a romântica Me Deixa Levar.

Ao todo são treze canções e cada faixa tem um dizer especial da cantora, como em Tecnologia ou na esperta Nas Ruas da Cidade, cujo não dá para definir todo o álbum. São músicas que tem uma levada de reggae, de acústico, de tempero ritmado, mas nem por isso deixa de ser autêntico. Olivia é uma cantora que se renova a cada disco e isto está mais que comprovado em Melodias de Sol em Pleno Azul (2013 / Trattore / 24,99), que é o oitavo disco da paulistana. Vale a pena ouvir, se debruçar e repetir quantas vezes for necessário, pois o disco na verdade é um discão, desses que nos hipnotizam e nos encantam.

Olivia é uma cantora que sabe cantar e Melodias de Sol em Pleno Azul eleva seu nome ao patamar das grandes cantoras brasileiras. Assim como remete também a ser um discos do ano pela categoria Melhores Lançamentos, realizada no final do ano. Assim como os outros discos da cantora, Melodia tem um som característico de quero mais, desses que não paramos um minuto sequer de cantarolar e de dizer versos à pessoa amada. Assim é Olivia: uma cantora completa que nos enfeita com suas músicas.

 


Melodias de Sol em Pleno Azul / Olivia Genesi
Nota 10
Marcelo Teixeira

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Volume 2 (1999) revela o melhor dos Titãs


Sintonia do grupo em alta
Eles não eram oito e sim nove e o nome não era só Titãs e sim Titãs do Iê Iê. A banda nada mais era do que um grupinho de amigos reunidos em torno de uma ideia que ainda não estava em prática e, embora tivessem atitudes, algumas músicas e figurinos eram bastante excêntricas.  Eles estouraram logo que surgiram e a música popular brasileira, mais especificamente o Rock Brasileiro, ganhava sua mais famosa tradução de esperteza, garantia de sucesso e de bons letristas. Os titãs vieram para ficar e marcaram na indústria fonográfica discos inesquecíveis, como Volume 2 , que hoje o Mais Cultura! faz questão de elogiar. O disco Volume 2 (1999 / Sony / 26,99) foi um marco na história da banda, com mais de seiscentos mil cópias vendidas e ganhou ares novos, com roupagens novas e facilitando e muito as músicas inéditas que contem no disco. Abrindo com Sonífera Ilha, a música virou um hino na voz de Paulo Miklos e aqui a nova roupagem ganhou trompete e trombone e ficou mais dançante que na primeira versão.  Outra que ganhou novos ares foi Lugar Comum, que agora ganhou brilho na voz de Branco Mello e a gaita de Flávio Guimarães brinca com a guitarra de Tony Bellto, conversando no intervalo da canção.

Escrever sobre os Titãs é uma coisa rara. Primeiro, sem dúvida, pelo fato de saber que já estamos velhos o suficiente para acompanhar uma banda por 30 anos. Mas digamos que eu não queira falar sobre isso agora. O motivo maior de desconforto tem a ver justamente com a banda em questão, ou ainda, com seus 30 anos de estrada. Ter sobrevivido tanto tempo num universo tão desfavorável ao envelhecimento como essa da música é um sinal de força ou de fraqueza? Estar em cena tanto tempo, muitas vezes sobrevivendo apenas de sucessos de dez ou mesmo de 20 anos atrás, faz sentido?

Por este mesmo motivo e talvez para ter a minha própria resposta, Volume 2 mostra que sim, que faz toda a diferença cantar músicas de outras estações. Fazendo parênteses (eu amo isso!), meu primeiro contato com os integrantes do grupo foi lá pelo início do ano 2000, nos Jardins, na Alameda Lorena (lugar que, por ventura, encontrei outros artistas, como a escritora Patrícia Mello, a cantora Miúcha, a atriz Tônia Carreiro, a cantora Maffalda Minozzi) e com os Titãs não poderia ser diferente.

Volume 2 carrega no brilho e na sofisticação todos os elementos próprios para que o disco seja um dos melhores da banda e da discografia nacional, porque traz a sensação de liberdade de todos ali envolvidos e, de quebra, traz também a jovialidade característica de cada um. Temos aqui ainda o Nando Reis e o Marcelo Frommer, mas não temos a soberania de Arnaldo Antunes fisicamente, embora suas canções estejam no disco.

O disco foi muito bem aceito pela crítica e público e a banda não deixou ninguém na mão. Foi um disco de relembranças de um tempo em que os Titãs eram reconhecidos como a melhor banda dos últimos tempos da última semana e comprovadamente, foi o melhor lançamento de coletâneas de todos os tempos, incluindo aqui as inéditas. Vale a pena ouvir um clássico como Volume 2 pela capacidade incrível que os músicos puderam demonstrar ao longo de suas carreiras e para sentirmos a sensação de que o melhor está aqui, reunido em um único disco, capaz de nos levantar e dizer que a banda é única.

 

Volume 2 / Titãs

Nota 10

Marcelo Teixeira

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Todo Domingos (2010) traz Flávia Bittencourt homenageando Dominguinhos


Flávia: bela voz nordestina
Flávia Bittencourt é uma de nossas melhores cantoras surgidas na nova geração de belas vozes e com excelente repertório e hoje o Mais Cultura! traz toda a magia e sedução do CD Todo Domingos (2010 / Independente / 23,99 ) em que faz uma justa homenagem à Dominguinhos, morto recentemente. O disco tem participações especiais de nomes importantes da nossa música, como Gilberto Gil e Djavan, além do próprio homenageado. No repertório, alguns dos maiores sucessos do músico, como Sete Meninas, Tenho Sede, Abri a Porta, Lamento Sertanejo e o clássico dos clássicos, Eu Só Quero um Xodó. Entre as faixas, uma composição inédita completa o setlist do disco, Seu Domingos, uma homenagem querida e simpática à Dominguinhos. Flávia merece destaque na cena musical por ser uma das novas e promissoras cantoras e compositoras das mais elogiadas pelos críticos e por artistas e escritores do porte de Luiz Melodia, Zeca Baleiro, Ferreira Gullar e Dominguinhos, que antes de falecer, disse que ela seria o futuro musical do Brasil. As raízes culturais da maranhense estão presentes na escolha de seu rico repertório, que sempre traz manifestações da cultura popular de seu estado natal, dialogando naturalmente com composições próprias e de outros compositores. Vale a pena ouvir os clássicos de um grande músico na voz saborosa de uma grande cantora.

 

Todo Domingos / Flávia Bittencourt

Nota 10

Marcelo Teixeira