terça-feira, 30 de abril de 2013

Emília Monteiro revela os sons do Norte em Cheia de Graça


Emília: revelação do Norte
Ela é amapaense, cresceu em Minas Gerais, mas vive atualmente em Brasília e é da capital do Brasil que surge uma das cantoras que merecem ser ouvidas e admiradas por seu canto, graça, beleza e espontaneidade. Emília Monteiro tem todos os atributos para ser considerada uma das maiores cantoras do Brasil, pois sua música é rica em elementos rítmicos do norte do país, respeitando a sonoridade opulenta de cada estado. Lançando Cheia de Graça (2012 / Independente - Trattore / 27,99) este ano, Emília Monteiro é uma dessas cantoras que faltavam no mercado fonográfico para falar do povo do norte, suas referencias e seus estilos, e que o CD chega em um momento certo dentro da MPB: com pompa de um grande disco, Cheia de Graça merece todos os destaques e ser considerado um dos melhores discos do novo século. É um CD com referência amazônica, mais especificamente do Pará e Amapá. Ritmos como o carimbó, marabaixo, carimbó chamegado, batuque e lundu relidos em arranjos contemporâneos e universais, além de outras músicas também percussivas, mais o valor da MPB contemporânea. No CD há músicas inéditas de compositores já conhecidos e que compõe com vontade e satisfação sempre pensando no melhor da música como Zeca Baleiro, Celso Viáfora, Simone Guimarães, Ellen Oléria e Dona Onete e outros igualmente talentosos, porém ainda não conhecidos da grande mídia (de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro).

Os batuques são manifestações que se ramificou do candomblé e foi implantada na Amazônia na era colonial, da mesma forma como nas demais províncias e regiões brasileiras. O batuque é a denominação genérica dada pelos portugueses para toda e qualquer dança de negros ou qualquer dança de tambor de caráter religioso ou não. No Pará, Amapá e Amazonas, é a denominação comum para os cultos afro-brasileiros. No Amapá de Emília Monteiro e em sua música, o batuque assume rituais miscigenados, praticados nas comunidades festeiras e em outras de origem negra. A mais extraordinária manifestação de criatividade artística do povo paraense foi criada pelos índios Tupinambá que, segundo os historiadores, eram dotados de um senso artístico invulgar, chegando a ser considerados, nas tribos, como verdadeiros semi-deuses.

Inicialmente, segundo tudo indica, a Dança do Carimbó era apresentada num andamento monótono, como acontece com a grande maioria das danças indígenas. Quando os escravos africanos tomaram contato com essa manifestação artística dos Tupinambá começaram a aperfeiçoar a dança, iniciando pelo andamento que, de monótono, passou a vibrar como uma espécie de variante do batuque africano. Por isso contagiava até mesmo os colonizadores portugueses que, pelo interesse de conseguir mão-de-obra para os mais diversos trabalhos, não somente estimulavam essas manifestações, como também, excepcionalmente, faziam questão de participar, acrescentando traços da expressão corporal característica das danças portuguesas. Não é à toa que a Dança do Carimbó apresenta, em certas passagens, alguns movimentos das danças folclóricas lusitanas, como os dedos castanholando na marcação certa do ritmo agitado e absorvente. Na língua indígena carimbó - Curi (Pau) e Mbó ( Oco ou furado), significa pau que produz som. Em alguns lugares do interior do Pará continua o título original de Dança do Curimbó. Mais recentemente, entretanto, a dança ficou nacionalmente conhecida como Dança do Carimbó, sem qualquer possibilidade de transformação. E são essas danças que estão representadas no belo CD Cheia de Graça, revelando os ritmos do Norte.

No disco, Emília Monteiro reúne variadas influências da MPB e de seu Amapá natal, com elementos europeus, africanos e ameríndios. Participação de Dona Onete em Eu Quero Esse Moreno pra Mim. A compositora paraense também é autora de Veneno de Cobra; as duas músicas são inéditas. Destaque ainda para Mal de Amor, de Joãozinho Gomes e Val Milhomem, sucesso que marcou a carreira de Emília na noite macapaense. A cantora disponibilizou o CD no site www.soundcloud.com/emiliamonteiro. Lá você poderá ter uma noção mais abrangente da musicalidade do CD como um todo. Eu destaco As deliciosas Mandacaru e Descalço (Nanon) compositor inédito de São Paulo, Coisinha (Zeca Baleiro/Suely Mesquita), Meus Ventos (Márcia Tauil / Simone Guimarães).

Emília Monteiro me encanta, me fascina e me influência. Seu canto é embalado por sons amazônicos e africanos e esse é todo o emaranhado de caracteres que a cantora exprime ao se deleitar em sua música. Logo nos encantamos com a regionalidade musical desta amapaense simpática, sorriso largo e inspirador. Sempre antenada com os movimentos artísticos, Emília busca na sonoridade de seu som, atributos para que sua música seja cada dia mais levada por multidões e que não fique apenas no reduto nortista. Emília Monteiro é uma guerreira e seu som precisa ser desbravado pelos quatro cantos deste país, revelando uma das melhores cantoras de todos os tempos e a vontade de que dá é de ir até o Norte do Brasil para conhecer de perto esta rica cultura, a qual precisamos descobrir mais e mais.

Vale ressaltar que hoje é o aniversário desta grande guerreira e o Mais Cultura Brasileira! e o moderador deste blog, Marcelo Teixeira, assim como milhares de leitores, desejam à você Emília, um Feliz Aniversário com muito sucesso e que este novo ciclo seja repleto de sucessos.

 



Cheia de Graça / Emília Monteiro

Nota 10

Marcelo Teixeira

segunda-feira, 29 de abril de 2013

A falta de Marisa Gata Mansa


Marisa em capa de disco: obra-prima
Chega a ser irrisório em pleno século 21, as pessoas não conhecerem ou não tomarem mais conhecimento de uma grande cantora chamada Marisa Gata Mansa. Em meio a tantas inutilidades que ouvimos por ai em esquinas, bares e bocas sujas e nulas, Marisa Gata Mansa é a cantora que faz falta no cenário musical e que poderíamos ouvir mais e mais e mais, sem cansar e sempre repetindo suas belas músicas com sua bela voz.  Marisa Gata Mansa é de origem de uma família que gostava muito de música e desde a infância se interessou em cantar. Devido ao seu jeito calmo de falar, recebeu de Djalma Sampaio o apelido de Gata Mansa, que adotou como nome artístico ainda na década de 1950. Em 1953, recebeu de João Gilberto a música Você esteve com meu bem?, de João Gilberto e Russo do Pandeiro, que gravou em seu primeiro disco, lançado pela RCA Victor.

No ano seguinte, iniciou sua carreira como intérprete de jazz. No mesmo ano, gravou os sambas Só eu não, de Monsueto, Raul Marques e M. Fernandes e Quem me fez chorar, de Caboclo, Carino e Gustavo. Atuou como crooner do Golden Room do Copacabana Palace (RJ) durante quatro anos. Em 1956, conheceu Dolores Duran, substituindo-a como cantora no Bacará. Seu contato com Dolores, a quem foi muito ligada, facilitou seu acesso ao movimento da bossa nova. Já integrada ao movimento, passou a cantar no Beco das Garrafas (RJ). Nessa mesma época, conheceu Antônio Maria, de cujas canções se tornou intérprete muito constante. Flávio Cavalcanti a levou para a TV Tupi, onde dividiu com Moacir Silva a apresentação do programa Convite à música.

Nessa época conheceu Bororó, Dick Farney, Johnny Alf e Sérgio Ricardo. A partir de 1958, gravou na Copacabana o fox You do something to me, de Cole Porter e o choro Que é?Que é?, de Bororó e Evagrio. No mesmo ano, gravou o clássico da música popular, Chega de saudade, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e o samba canção Castigo, de Dolores Duran, seu maior sucesso. No ano seguinte, gravou seu primeiro LP, A suave Marisa, que incluiu a faixa "A noite do meu bem", de Dolores Duran, que foi para as paradas de sucesso. Registrou em disco quase toda a obra de Dolores Duran, que a homenageou com a canção Não me culpe. Foi casada com o compositor e pianista César Camargo Mariano, que compôs para ela a música Marisa, tema da cerimônia religiosa de seu casamento com o compositor. Teve um filho com ele, o músico Marcelo Mariano.

Em 1961, gravou o samba canção Um novo céu, de Fernando César e Ted Moreno e o samba Operação amor, de Jaime Florence e Augusto Mesquita. Morou em São Paulo durante sete anos, época em que tentou fazer teatro, chegando a participar de um musical com Lennie Dale e de um espetáculo com Caetano Veloso e Taiguara, no Teatro de Arena. Voltou para o Rio de Janeiro, e passou a atuar nas boates Fossa e Taba. Gravou músicas inéditas de Johnny Alf, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, entre outros. Em 1972, gravou um compacto simples com Viagem, de João de Aquino e Paulo César Pinheiro, marco em sua carreira. Homenageou Dolores Duran em três espetáculos: Dolores, 20 anos depois (1979), A noite de meu bem e Tributo a Dolores Duran.

Na década de 1980, gravou os LPs Marisa Gata Mansa e Leopardo. Em 1997, lançou um CD em homenagem ao cronista e compositor Antônio Maria, com destaque para Samba de Orfeu e Manhã de Carnaval, ambas de Antônio Maria e Luís Bonfá. Também o homenageou com o disco e espetáculo musical Encontro com Antonio Maria, escrito e dirigido por Ruy Faria do grupo vocal MPB-4. Teve ativa participação em projetos musicais, como Seis e meia, dirigido por Hermínio Belo de Carvalho e Albino Pinheiro, e Pixinguinha. Apresentou-se em todas as capitais e diversas cidades do interior do País. Faleceu aos 69 anos, devido a uma insuficiência respiratória aguda, consequência de uma isquemia cardíaca.

A falta que Marisa provoca em mim é tão absurda, que eu preferiria escutar sua bela voz ao invés de proferir estas palavras neste artigo. Peço apenas uma única coisa: ouçam Marisa Gata Mansa ao menos uma vez em sua vida!

 

A falta de Marisa Gata Mansa

Marcelo Teixeira

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Lek lek lek... já deu o que tinha que dar!


Incitação ao ridículo
A porcaria que assola a nossa música popular brasileira não tem fronteiras para acabar e inundam, mancham e emporcalham nossos ouvidos solenes com tantos lek lek lek e quadradinhos de quatro. Chega a ser uma verdadeira vergonha esses três garotos saídos de uma comunidade do Rio de Janeiro para demonstrarem tamanha aberração nada cultural. Não que a comunidade do Rio seja uma aberração completa, não estou aqui dizendo isso, mas bem que a comunidade poderia ter nos mostrado algo muito mais valioso culturalmente do que esses moleques ridículos fantasiados dos pés à cabeça com óculos coloridos, bonés coloridos, gargantilhas, correntes, brincos, calças apertadíssimas, camisetas largas, cintos espalhafatosos, tênis coloridos em cada pé. Isso é uma coisa tão chocante quanto o grupo Restart, que utilizavam calças coloridas. E, para início de conversa, o grupo Restart é muito mais civilizado do que esses Federados Originais.

Fora a briga pelo poder, pelo dinheiro, pela comunidade e por espaço que está acontecendo no momento. Um outro grupo de lek lek resolveram entrar na disputa e estão dizendo a todo custo que são os originais, formadores de cantoria e que inventaram a letra desengonçada e pueril. Afinal, ficar retorcendo de um lado para o outro ao passo de um passinho de volante é só para retardos mentais que nada pensam sobre o futuro e músicas de cantores e cantoras consagrados vão por água abaixo num piscar de olhos.

Tanto faz este lek lek com três integrantes como o lek lek com quatro esquisitos, a sua música é horrenda, fétida e só imunda a imagem do Brasil. Quem acompanha esses imbecis acaba sendo mais imbecis que eles, mais ignorantes que eles e mais pobre de cultura que eles. Infelizmente, estamos rodeados de figuras impiedosas ao nosso lado, que acabam com nossa cultura, mas chega a ser tão grotesco, tão desumano, tão animal e tão imaturo quanto os que os seguem.

 

Os ridículos Lek Lek Lek

Marcelo Teixeira

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Agenda Mais Cultura! Olivia Genesi


Olivia: show grátis dia 28/04
Domingo próximo a Avenida Paulista, mais precisamente no Parque Trianon, a manhã será iluminada pela presença marcante e pela voz deliciosa da cantora Olivia Genesi, que estará ali, junto das árvores e dos pássaros cantando músicas de seus CDs e do novo que está prestes a sair do forno. Acompanhada de Luca Batista nos violões, Olivia se prevalecerá do sol, do tempo bom, da manhã e de um público caloroso no Trianon, em frente ao Masp, aqui em São Paulo, para um desfiadeiro de canções. Valerá a pena acordar cedo para assistir a um show totalmente gratuito em um dos cartões postais mais vistos na cidade. Para quem já conhece a obra da cantora, será um prazer vê-la de perto e cantar suas músicas. Para quem não a conhece, será mais um motivo para sair de casa e ir ao seu encontro e desfrutar de uma boa música. O Agenda Mais Cultura!, mais uma vez, reverencia este canto. Aproveitem e venham ouvir Olivia!

 

Agenda Mais Cultura! – Olivia

Quando: 28/04/13 - Domingo

Local: Parque Trianon, Av. Paulista

Horário: 11 da manhã

 

Marcelo Teixeira

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A briga das cantoras Maria Rita e Rita Maria perdura desde 2003


A afinadíssima Rita Maria
A briga começou em 2003 e até hoje rende uma fofoca ali ou acolá sobre o assunto: a cantora Maria Rita (não a filha de Elis) foi obrigada a trocar de nome para não ter complicações na carreira e, assim, passou a ser chamada de Rita Maria. Na estrada há quinze anos, a cantora agora chamada de Rita Maria descobriu ao longo de 2003 que ia ter de mudar de nome. Virou Rita Maria, para escapar da confusão com a outra Maria Rita, a filha de Elis Regina, a que agora todo mundo conhece e que lançou seu primeiro disco em 2003, fazendo enorme sucesso de público e crítica. Definindo-se cantora genérica num divertido texto em seu site (www.mariarita.mus.br), Rita Maria conta o auge a que chegou a confusão, quando um show seu coincidiu com o de Chico Pinheiro, no qual estreava Maria Rita Mariano: “As pessoas iam ao camarim chorando e me dizendo: 'Você é a cara da sua mãe, sua voz é igual à dela'. Caíram muitas fichas para mim.

Rita Maria é cantora e compositora paulistana, que desde o início de sua carreira desenvolve trabalho autoral e inédito. O primeiro registro dessa trajetória é o CD FORA DE ÓRBITA – gravação independente com distribuição da Tratore. Sua formação musical inclui aulas de canto lírico (com Elenis Guimarães na Escola Municipal de Música de São Paulo), canto popular com Beth Amin e Regina Machado, percussão corporal (com Fernando Barbosa – barbatuques), piano, improvisação vocal, arranjo vocal e regência coral.

Rita Maria também é professora de canto popular em escolas renomadas da capital paulista (Espaço Musical, Canto do Brasil e Intermezzo) e aluna do curso de licenciatura em música da Universidade de São Paulo. Atualmente prepara a gravação de seu segundo CD, com produção de Gilberto Assis.

Assim como Rita Ribeiro, que hoje assina Rita Benedditto ou a cantora Anna Luiza, que agora assina Anna Ratto, Rita Maria trocou o nome para não haver confusão futuramente. Já chegou ao ponto de Rita Maria estar sendo entrevistada e tocar ao fundo uma música de Maria Rita.

Zélia Duncan já fora Zélia Cristina, Gal Costa era Maria da Graça, Gonzaguinha já fora Luiz Gonzaga Junior, Jorge Ben Jor agora é Jorge Ben, Sandra Sá agora é Sandra de Sá, Joyce virou Joyce Moreno, Marisa Gata Mansa virou apenas Marisa, Baby Consuelo agora é Brasil. No caso de Rita Benedditto e Anna Luiza, as cantoras também eram confundidas aqui no Brasil e no exterior com outras cantoras com mesmo nome. Anna Luiza é uma outra cantora que canta ao lado de Luiz Felipe Gama e que tem uma voz cristalina e de difícil alcance e que não se parece com a Anna Luiza que agora virou Ratto. Já Rita Ribeiro é muito confundida em Portugal. Confuso? Um pouco, ainda mais quando não se conhece profundamente as cantoras.

Como toda grande estrela, Rita Maria deixou de ser Maria Rita, mas não perdeu sua verdadeira identidade.


Maria Rita vira Rita Maria porque Maria Rita é a filha de Elis Regina

Marcelo Teixeira

terça-feira, 23 de abril de 2013

Seu nome é Marion Stein


A cantora Marion Stein
Prestem atenção neste nome: Marion Stein. Ela é cantora, mas infelizmente não tem disco nenhum no concorrido mercado fonográfico, que insiste em lançar artistas desqualificados ao invés de investirem em qualidade. Marion já se apresentou em algumas casas com seu antigo Trio Bratcho, sempre fazendo burburinhos satisfatórios por onde passou, arrancando palmas esfuziantes de pessoas emocionadas com seu canto. Marion Stein é detentora de uma voz maravilhosa, uma grande presença de palco e consegue fazer todo o clima do local ser untado em harmonia e cantoria.

Moderninha ao seu jeito, a cantora Marion Stein por vezes se parece com a cantora mineira Ceumar, devido ao cabelo volumoso. Fã de carteirinha da cantora Tulipa Ruiz (foi em um desses shows que tive o prazer de conhece-la) e de Tiê, Marion se inspira nas cantoras de seu tempo, sem perder a chance de conhecer e desbravar um pouco do passado.

Antenadíssima com o circuito musical paulistano, Marion Stein segue os passos dos novos cantores como Pedro Viáfora, Márcia Castro, o grupo 5 a Seco e inspira-se em alguns cantores internacionais, como, por exemplo, Cole Porter, Amy Winehose, Laura Marling e Edith Piaf, sem esquecer dos mestres do passado, como Chico Buarque e Rita Lee.

Marion Stein canta de tudo um pouco: de baião ao rock, de MPB ao samba sempre com maestria e com a dominação de quem sabe o que faz. E Marion manda bem no vocal, seu instrumento maior: brinca com as cordas vocais com tamanha sutileza e impõe uma sofisticação extra ao seu timbre.

Marion Stein precisa ser descoberta. Precisa ser ouvida. Precisa que sua música chegue até ouvidos mais distantes e que carece de boa musicalidade. Moradora de São Paulo, por onde passa, chama a atenção por sua beleza e carisma e consegue atrair olhares atentos de todos os lados. Marion precisa de sua atenção para demonstrar o quanto sua música e sua voz são sensacionais.

Marion é uma cantora sensacional.

 

Seu nome é Marion Stein

Marcelo Teixeira

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Virada Cultural 2013 - Os Mais Cotados


Virada Cultural 2013
Chico Buarque, o mais cotado para comparecer como uma das atrações principais da Virada Cultural, já disse que não vai. Prestes a fechar a lista com o nome dos artistas que se apresentarão na Virada Cultural deste ano, o cantor Chico Buarque nega o pedido de se apresentar no evento. Por outro lado, o Catraca Livre me mandou uma lista exclusiva e mostra as presenças confirmadas de Gal Costa, Tulipa Ruiz e Pitty. 

Seu Jorge, Criolo e Marisa Monte foram alguns dos nomes mais citados na votação que o Catraca Livre conseguiu através de pesquisas. A ideia era saber qual artista os paulistanos gostariam de ver na edição 2013 da Virada Cultural. Com exclusividade, já é sabido que Chico Buarque não aceitou o convite. Estão confirmadas, porém, nomes como Pitty, Gal Costa e Tulipa Ruiz, como citei acima. A Secretaria de Cultura da cidade se compromete a avaliar as indicações feitas pelos leitores do Catraca Livre.

Vale lembrar que o resultado da votação será encaminhado aos organizadores do evento, mas pode ser que o artista não seja contratado para se apresentar no evento. A Secretaria não tem obrigação legal de contratar os primeiros colocados. Trata-se, portanto, de uma consulta para democratizar a escolha dos nomes.

Confira os dez principais destaques da programação

1. Charile Brown Jr 2.62%

2. Chico Buarque 2.6%

3. Teatro Mágico 2.23%

4. Seu Jorge 2.22%

5. Nando Reis 2.22%

6. Criolo 2.02%

7. Marisa Monte 1.95%

8. Caetano Veloso 1.92%

9. Lenine 1.87%

10. Planet Hemp 1.82%

 

Virada Cultural São Paulo

Marcelo Teixeira

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Por onde anda a cantora Rosana?


A cantora Rosanah Fienngo
Repudiar o passado glamuroso pela palavra de Deus é um ato tão corriqueiro, que muitos preferem esquecer que um dia fizeram sucesso lá nos anos 70, 80 e 90 e partem da nova fase, tentando mostrar ao novo público que aquela sim é a sua verdadeira fase. Isso é uma grande ilusão. Vários cantores aderiram à fase de Deus depois de cometeram pecados absurdos e foram encontrar nas palavras divinas, escritas há mais de dois mil anos, um motivo para tentar se camuflar e não admitir que perderam espaços para os novos cantores, novos segmentos, estilos e canções. Baby do Brasil que o diga: um dia fora Baby Consuelo, a Baby que cantava de tudo, que pintava os cabelos de cores berrantes (para a época era uma afronta) e que falava aquilo que lhe vinha à mente. Hoje, convertida, Baby se recusou a cantar durante muitos anos, sucessos que falavam do sexo feminino, da libertinagem, da mulher e se entregou profundamente ao seu Deus inoperante. Recentemente, graças ao filho Pedro Sá (que tocou ao lado de grandes estrelas da música brasileira, inclusive com Bebel Gilberto), Baby se desvencilhou da imagem de Deus e encarnou brilhantemente a nossa eterna Baby do Brasil.

Todo cantor que faz uma versão de um sucesso americano, juntando frases e expressões sem algum sentido, precisa tomar cuidado com o futuro que os espera.  Os fãs do brega pegajoso devem estar desesperados agora que Rosana repudiou para sempre seu clássico Como uma Deusa ao se converter evangélica, transformando-o em Como meu Deus. Isso faz um tempinho que aconteceu, mas chegar ao ponto de transformar a letra para agradar a um novo público, chega a ser bizarrice e burrice.

Tudo bem que, digamos, não combina para uma evangélica cantar uma letra com magia negra, fora da lei, mas, cá entre nós, bastava se converter, já que a letra de Amor e Poder não faz sentido nenhum e o passado ao passado pertence. Além disso, sem Amor e Poder (que muitos chamavam – e chamam – de Como Uma Deusa) na trilha sonora, o clássico da antiga TV Pirata, Fogo no Rabo (com o inesquecível personagem Barbosa, interpretado por Nei Latorraca), não seria a mesma coisa. Agora, componha novas músicas, Rosana!

Eu era muito fã da cantora gótica Rosana, que parava tudo para vê-la cantar na TV. Lembro-me que os programas de auditório da época, a chamavam insistentemente. Rosana era uma cantora bonita, tinha traços delineares da maçã do rosto exposto e tinha os olhos meio puxados, o que dava a imagem de ser uma japonesa, uma chinesa ou uma equatoriana. Menos brasileira. Mas o sucesso de Como uma Deusa era muito maior que a cantora e isso a engoliu de tal forma, que Rosana não conseguiu emplacar sucessos futuros. E olha que os discos de Rosana eram muito bem caprichados e com músicas bacaninhas. Mudou o estilo, mudou as fotos, tentou ficar mais ousada, mas de nada adiantava. Aquela época, os fãs queriam ouvir somente como uma deusa, você me mantém e as coisas que você me diz, me levam além...

Quando Rosana, cansada disso tudo talvez, resolveu mudar de estilo de vida (e até de religião), tudo aconteceu. As plásticas no rosto foram ficando cada vez mais estranhas e acabavam com a beleza exótica da cantora, mas a voz de Rosana estava ficando muito melhor, mais encantadora, mais sedutora, mais Rosana. E a transformação não foi em vão: Rosana estava desiludida com a indústria fonográfica que insistia em coloca-la entre as maiores cantoras do Brasil, mas o público exigia que ela cantasse a (para ela cansativa) Como uma Deusa. Rosana era muito mais do que uma deusa. Sua maior desilusão foi a morte do filho e, depressiva como estava, resolveu mudar de vida, convertendo-se a palavra de Deus. Começava ali a reclusão de Rosana, a deusa.

Conhecida pelo único sucesso Amor e Poder - tema de novela da Rede Globo e gravado em vários idiomas - a cantora Rosana se converteu e foi ao mercado com uma versão gospel ao lado de Claudia Valente, que, a época, lançava seu primeiro álbum, Nascer de Novo. Rosana trocou de nome e sobrenome: de Rosana, passara a Rosanah e de Fiengo, passara a Fienngo. Portanto, agora a cantora assina Rosanah Fienngo. Em entrevistas concedidas ignora esse tipo de comentário e solta o famoso vozeirão, avisando que sua fé é inabalável. Foi graças a ela, aliás, que Rosanah aprendeu a lidar com perdas, como a morte de seu primeiro filho, que a aproximou ainda mais de Deus.   Com o apoio da amiga Claudia Valente, a cantora passou a frequentar os cultos na Igreja Batista, no Rio de Janeiro, onde teve um encontro com Jesus, que mudou seu destino.  

Incrível como o mundo da fama pode ser glamoroso e cruel ao mesmo tempo. Muitas celebridades tiram o melhor dos seus 15 minutos - ou anos - de sucesso, mas alguns aparecem meteoricamente, ganham espaço e somem. No site oficial da cantora Rosana consta que o último CD dela, lançado em 2003, ganhou o Disco de Ouro em Portugal. Ela tem 10 no total, ao longo da carreira. Rosana esteve na trilha de uma famosa novela da Record, obviamente. Em dueto com Rodrigo Faro, canta Reencontro, que fizera um sucesso considerável. Mas foi com o hit Amor e Poder, sucesso no final da década de 80, que Rosana fez história. A frase do refrão Como uma deusa hoje é praticamente sinônimo da cantora.

 

Por onde anda a cantora Rosana?

Marcelo Teixeira

 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Nos Horizontes de Leila Pinheiro


Um dos melhores de Leila
Leila Pinheiro é muito conhecida como uma bossa-novista que não esteve naquele tempo áureo de Tom Jobim ou Vinicius de Moraes, mas teve o aval e apadrinhamento do primeiro para poder cantar toda a discografia precisa do maior compositor brasileiro de todos os tempos. Mesmo com discos muito além da bossa nova, Leila Pinheiro conseguiu imprimir em sua discografia, discos quase autorais, como Na Ponta da Língua e Nos Horizontes da Vida, hoje retratado aqui no Mais Cultura. E Leila teve muito o que celebrar em 2005, ano do lançamento do disco, pela Universal. Contratada pela Biscoito Fino no ano seguinte, a cantora lançou um de seus melhores discos, Nos Horizontes do Mundo - o primeiro gravado com autonomia desde 1998, ano em que apresentou o delicioso CD Na Ponta da Língua (já resenhado aqui no blog).

Sem obstinação, Leila arriscou na disparidade e estimulou a nova onda de parcerias como Joyce com Luiz Tatit na saborosa Deu no que Deu, Marcos Valle com Jorge Vercilo, na dançante Pela Ciclovia e, sobretudo, Chico Buarque com Ivan Lins - na inquietante, Renata Maria). Leila gravou ainda soberbas inéditas de Fátima Guedes (A Vida que a Gente Leva) e Francis Hime, com participação de John Donne e Geraldo Carneiro (Gozos da Alma), além de ter recriado de forma sublime a triste canção Onde Deus Possa me Ouvir, do mineiro Vander Lee, em registro que superou (e muito) a gravação feita por Gal Costa em 2002, em Gal Tropical.

Tiranizar, de Caetano Veloso e César Mendes, foi um dos achados de Leila para compor o novo disco, porque a música ficou muito deliciosa de ouvir e dá aquela sensação de quero mais. Assim como O Amor e Eu, um sambinha genioso de Eduardo Gudin, outro grande amigo de Leila. Nuestro Juramento é um bolerão dos bons do porto-riquenho Benito de Jesus e ...E Muito Mais é uma boa embolada que somente os irmãos João Donato e Lysias Ênio sabem fazer.

Mas não são todos que conseguem gravar Minha Alma, do grupo O Rappa com tamanha maestria. Vânia Abreu o fez em seu disco Eu Sou a Multidão e o resultado ficou bacana. Aqui, Leila Pinheiro utiliza a música Juízo Final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares), com voz de Nelson, como incidental tanto no início como no fim da canção. Ficou boa, mas poderia ser melhor e nem por isso tira o mérito de todo o álbum.

A faceta de compositora aparece em Delicadeza tocada apenas ao piano e a parceria com Renato Russo surge em Hoje, uma música calcada no sentimento puro e sincero sobre a vida. Simone Guimarães a presenteia com Vem, Amada, uma canção leve, que trata sobre o amor e suas singelezas perdidas. Encerrando (assim como Na Ponta da Língua) com Walter Franco, grande amiga da cantora, A 60 Minutos Por Hora revela que sessenta minutos por hora não precisa ter pressa para chegar a lugar nenhum.

Nos Horizontes do Mundo (letra de Paulinho da Viola) repousa Leila Pinheiro no primeiro time de cantoras nacionais, depois de muito caminhar com discos a sombra da bossa nova.

 
Nos Horizontes do Mundo / Leila Pinheiro

Nota 10

Marcelo Teixeira

quarta-feira, 17 de abril de 2013

De Olho Neles: Adriana Godoy


Adriana Godoy: bela voz
Paulistana, filha do maestro e compositor Adylson Godoy e da cantora Silvia Maria, Adriana Godoy tem na família tradição musical seguindo gerações, passando pelos tios Amilton Godoy, pianista do Zimbo Trio e Amilson Godoy, maestro e produtor cultural. Sua vivência como musicista aconteceu dos sete aos quatorze anos na Escola de Piano Magdalena Tagliaferro (SP) até a descoberta de seu instrumento, A VOZ, aos dezenove anos, dedicando-se ao estudo de técnica e interpretação, com Maria Alvim e na Universidade Livre de Música Tom Jobim, de 1996 a 2000. A partir daí participou de projetos que lhe dariam vivência musical e profissionalismo. Dividiu arte e palco com importantes nomes da música brasileira. Entre eles Adylson Godoy, Alaíde Costa, Amilson Godoy e Grupo Sinfônico Arte Viva, Banda Sinfônica Jovem (SP), Carlos Lyra, Elton Medeiros, Eduardo Gudin, diretor Fernando Faro, Filó Machado, Jair Rodrigues, João Donato, Joyce, diretor José Possi Neto, Maestro Júlio Medaglia e Orquestra de Cordas Theatro Municipal de São Paulo, Luiz Roberto Oliveira, Marcos Valle, produtor Manuel Barenbein, Mieli, Miúcha, Maestro Roberto Sion e Orquestra Jovem Tom Jobim, Renato Braz, Roberto Menescal, Rosa Passos, Sérgio Cabral, Swami Jr., Theo de Barros, Zimbo Trio.

Ao lado de Zimbo Trio em setembro de 2009, recebeu do Governo Municipal de La Paz, Bolívia, um certificado de reconhecimento por sua participação no VIII La Paz FestJazz Internacional , Música de Libertad. Adriana é professora de canto popular no CLAM (escola de música do Zimbo Trio) e professora convidada da faculdade Santa Marcelina (SP) para avaliar os alunos de canto popular. Em julho de 2010, fez o lançamento de seu segundo Cd solo Marco, na casa Tom Jazz, em SP, dedicando-se a sua difusão. Em 2011 dedicou-se a comemoração dos seus 15 anos de carreira em diferentes casas de shows em São Paulo. Teve estreia com o disco Todos Os Sentidos (2003), que foi produzido por Adylson Godoy e Adriana Godoy, enquanto o CD Marco (2010), foi produzido por Adriana Godoy e Debora Gurgel. O Cd Marco, possuiu o apoio do Prêmio ProAc 2008, através da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo.

 

De Olho Neles: Adriana Godoy

Marcelo Teixeira

terça-feira, 16 de abril de 2013

Luiz Marques: de Minas Gerais para o mundo


Luiz Marques: elegância e sutileza
Fazia tempo que eu não encontrava um grande cantor para cobrir a carência que existia na MPB. Existe uma grande lacuna entre cantores bons, medianos e ótimos e essa grande lacuna não era preenchida há tempos. Vez por outra surge um grande nome masculino, um cantor que faltava na seara musical e que nos faz ouvir uma canção com certa sensibilidade e emoção. Há grandes nomes de outrora, como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Ivan Lins e João Bosco, assim como alguns novatos, como Filipe Catto e Marcelo Jeneci, mas nenhum dos dois tem a capacidade de emocionar tanto e com tanta maestria quanto Luiz Marques, que consegue, ao mesmo tempo nos encantar, emocionar, rir e sentir que a música popular brasileira está salva. Lançado em 2011, Mira Certa é um disco autoral (as dez canções são de autoria de Luiz) e teve participações de grandes músicos mineiros, como Célio Balona, André Campagnani, Sérgio Rabelo, Rogério Delayon, Frederico Heliodoro e Serginho Silva.

Vocalmente comparado à Lô Borges, Luiz Marques ecoa uma sonoridade a qual precisamos (re)descobrir, pois a sua musicalidade realça o som de Minas com tamanha característica que por vezes parece que estamos diante O Clube da Esquina. Algumas vezes, ao fechar os olhos, senti uma certa comparação à Renato Braz, tamanha a coincidência de vozes, mas isso são meros detalhes. A música de Luiz Marques é excelente. E ponto.

Comparações à parte (isso é notório dentro da música popular brasileira, quiçá mundial), Luiz Marques encanta pelo canal mais humano: ele emociona. Suas letras são de forte tino sentimental e transbordam brilho e profunda riqueza, que fica fácil nos identificarmos com algumas canções.

Quarto disco do cantor e compositor mineiro, o disco Mira Certa se transformou em DVD (sendo o primeiro de sua carreira) e que ganha ares sofisticados e ambiente intimista, passando uma impressão maravilhosa da atmosfera musical do cantor. Todas as faixas do DVD são de autoria de Luiz Marques, que conta com as coreografias sensacionais de Sandra Magalhães, na bela faixa Campo de Girassóis, cujo sua dramaticidade elucida o texto da canção e Luiza Marques, na música Nosso Velho e Novo Amor.

Devoto de Santa Terezinha assim como eu, a música Céu de Santa Terezinha é uma das melhores faixas do DVD, mas têm também outras pérolas, como Mira Certa, Itacoaticara, Sino e Maracatu Derradeiro.

Sino é um lirismo ingênuo e aflorado. A saga de João, José e Jessé é bem retratada na faixa A Saga de João Retirante, uma emocionada e triste letra, que só por esta canção já vale todo o DVD e demonstra as inúmeras facetas de compor do mineiro de Patos de Minas, revela o quão satisfatório é ouvir e ver Luiz Marques. Mistério e Paixão é dançante e mostra a felicidade e a sincronia dos músicos ao tocarem a música. Romântico e sensível, Luiz Marques conquista a plateia com suas canções de prumo intelectual, seu romantismo doce e suas letras lúcidas, cujo é visível em algumas faixas com a compenetração dos músicos.  Todas as faixas do CD estão no DVD recém lançado, cujo contém mais faixas autorais.

Intimista, tímido, desafiador e completo, Luiz Marques não deixa a desejar no show acústico que fez no Teatro Sesiminas, em Minas Gerais e conseguiu arrancar palmas esfuziantes da plateia que estava visivelmente emocionada. Luiz Marques é um dos cantores da nova geração e sua voz é tão tenra, tão acalentadora, que temos que ouvir e repetir para nos certificarmos de que o músico é brasileiro e a música é de excelente qualidade.

Em meio a tantos arrombos musicais destituídos de nenhuma elegância que se vê esfuziando por aí, Luiz Marques é uma salvação e uma exceção. Sua música ilumina a qualquer um. Suas letras são caprichadas, bem elaboradas e cabem perfeitamente em sua bela voz. Escrever estas linhas após assistir ao DVD foi um grande desafio, pois não há palavras no mundo que possa descrever o tamanho da minha emoção.

Luiz Marques encanta. Luiz Marques é um dos melhores cantores que o Brasil tem na atualidade e o país inteiro tem que descobri-lo a tempo. A sua musicalidade é única e exclusivamente brasileira e isso faz toda a diferença em sua brilhante carreira. O Mais Cultura têm o prazer de revelar a vocês, o sensacional e espetacular cantor Luiz Marques.

 

Mira Certa / Luiz Marques

Nota 10

Marcelo Teixeira

 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Virgínia Rosa emociona público cantando Clara Nunes


Virgínia Rosa e eu após o show
Com um misto de emoção e carinho, a cantora paulistana Virgínia Rosa conseguiu exprimir muito mais do público cativo que conseguiu sambar, cantar e se emocionar cantando as músicas eternizadas por Clara Nunes. O tempo não estava propício aqui em São Paulo: chovia e fazia muito frio, mas as mesas foram todas tomadas e amparadas por todas as faixas etárias e por saudosistas que sentiram a presença de Clara. Quando Virgínia Rosa adentrou no local, vestida de branco com um colar no pescoço (que fazia lembrar as miçangas de Clara), o clima esquentou e uma saraivada de palmas ecoou. Virgínia Rosa cantou, emocionou e foi louvada pelo público ali presente. Sua voz poderosa eclodiu todo o teatro e o público ficou arrepiado a cada término de música.

Houve um momento marcante no show: assim que Virgínia terminou de cantar a primeira música, um senhor foi em sua direção ao palco e entregou-lhe uma pétala de flor. Foi um momento único e sublime, que deixou a todos maravilhados, inclusive a cantora, que, após o show, esteve com a pétala presente em suas mãos e por onde caminhava. Seu Nélson, que gesto espetacular e que ficará para sempre em minha memória e na memória de todos ali presentes. Parabéns.

Virgínia começou o show pontualmente às 15 horas, acompanhada de excelentes músicos. Cantou com determinação as músicas imortalizadas de Clara, como Tristeza, Pé No Chão, Galou Cantou, Menino Deus e quando O Mar Serenou surgiu, todos cantaram em uníssono, dando a sensação de que Clara estava presente.

Virgínia conseguiu uma façanha e tanta: ser diferente das muitas homenagens que estão por ai em homenagem aos 30 Anos Sem Clara. O show é marcado por sensibilidade (Basta Um Dia / Ser de Luz), emoção (O Mar Serenou), arrepios (O Canto das Três Raças / Iansã Cadê Ogum) e grandezas, como no caso de Nação e Morena de Angola, em que canta o refrão em língua africana. Um show a parte, Virgínia captou de uma senhora gentil e honesta a singela e cortante frase: Você é Luz! Não contive a vontade de chorar. Essa senhora gentil e honesta e que na qual Virgínia Rosa se encantou, chama-se dona Olga, uma fofura de senhorinha!

Virgínia é digna de homenagear Clara. Além de ter voz capaz de alcançar notas impensáveis, consegue cantar todas as músicas sem tropeçar, mantendo fôlego suficiente para engatar uma nova canção e sem errar ou trocar as letras. Cantou divinamente Feira de Mangaio e sambou ao som de Portela na Avenida.

Ainda assim, Virgínia Rosa continuará se apresentando Brasil a fora o espetáculo em que homenageia Clara Nunes e recomendo este grande show, com uma grande voz e com uma grande cantora, chamada Virgínia Rosa.
 
Foto 1: Virgínia e eu após o show
Foto 2: a pétala de flor entregue por seu Nelson a Virgínia Rosa ao fim da primeira música, Juízo Final. Emoção à flor da pele.

 

Virgínia Rosa canta Clara Nunes

Marcelo Teixeira

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A polêmica de Chico César em Odeio Rodeio




Chico: polêmica desde 2005
Chico César vem com a coragem e o bom humor suficientes para dizer - e gravar - Odeio Rodeio, uma música que parece simples, mas que carrega um peso enorme nas costas e que proporcionou a quase retirada de Chico das rádios do Brasil. A parceira de reclamação não poderia ser melhor e trouxe a tiracolo a segunda maior defensora dos animais, a cantora e compositora Rita Lee. Os dois gravaram Odeio Rodeio, música e letra de Chico e uma das duas faixas do CD Compacto e Simples, que tem também a canção Brega. Trata-se de uma inovação no formato do CD ou um revival dos antigos compactos de vinil - que continham 2 ou 4 músicas. É o quarto lançamento do selo de Chico, o Chita Discos.

Odeio Rodeio acabou se tornando um grito de guerra das entidades protetoras dos animais e o bordão dá nome à campanha lançada pela Associação Paulista de Auxílio aos Animais (Apaa), que tem até adesivos. Odeio Rodeio também estampa camisetas - uma delas usada pela cantora Pitty, que usou ostensivamente após o lançamento da canção.

 

Odeio rodeio e sinto um certo nojo

 Quando um sertanejo começa a tocar

 Eu sei que é preconceito, mas ninguém é perfeito

 Me deixem desabafar

(Trecho de Odeio Rodeio, de Chico César)

 

Rodeio e religião: se me perguntarem, digo que sou contra aquele e antipatizo com este. Mas só se me perguntarem. Tolero bem a existência destas duas expressões – a cultural e a divinação ao culto, ao ponto de buscar algo que as una em mim para que eu possa dar minha opinião. Sei que ninguém pediu, mas ideias ganham vida própria sem que digamos sim ou não.

Lá se vão quase sete anos do lançamento do desafio do cantor sertanejo Zezé di Camargo à roqueira Rita Lee para que esta provasse denúncias de maus tratos a animais durante os muitos rodeios realizados Brasil afora. Houve, por aquela época da composição, em parceria cantada com Chico César (hoje ocupando o cargo de secretário estadual de cultura da Paraíba), a proibição da canção ODEIO RODEIO, que viria enfurecer a ala pop de intérpretes de música caipira (gênero dominante em eventos country).

Polêmica velha e que se consumiu no deslinde do mau enfrentamento de ideias preconceituosas (Rita/Chico) versus defesa baseada em números (não levaram em conta o sofrimento dos animais) tais como a quantidade de empregos que os rodeios geram, retorno financeiro para as cidades que sediam grandes eventos, e que tais sertanejos usam e abusam. Reclamaram da música, reclamaram de Chico e Rita, houve muita discussão entre sertanistas com calças apertadas e cabelos arrepiados e nada pensaram sobre os animais.

Acompanhei a pantomima saboreando um bom contrafilé assado e dando razão à vegetariana Rita, mas sem dizer a ninguém minha opinião. Dizia apenas de si para si que o desnecessário e o ocre do rodeio poderiam ser testados com os peões sendo montados pelos bois e cavalos. Opinar contra isto ou aquilo, só se encostassem um punhal de prata em um dos meus olhos e dissessem: - Opine! Diga! E eu diria que sou contra rodeio, que vejo naquilo apenas crueldade e sadismo, nada mais.

 

A calça apertada, a loura suada, aquele poeirão

 A dupla cantando e um louco gritando “segura peão”

 Me tira a calma, me fere a alma, me corta o coração

 Se é luxo ou é lixo, quem sabe é bicho que sofre o esporão

(Trecho de Odeio Rodeio, de Chico César)

 

O fato é que este que vos escreve é homem comum como outro qualquer, e por ser comum tem hábitos considerados normais, anseios e ambições rastaqueras, desejos inimputáveis e sonhos tão recorrentes quanto ordinários. Ou seja, uma estrela no céu, uma gramínea no descampado, um automóvel em um congestionamento. Apenas mais um. Mais um entre tantos.

Assim sendo posso afirmar que, no mesmo instante que a música causa repulsa e estranheza, a mesma me atrai, me completa e me comove. Me atrai porque me faz observá-la (mesmo que longe); me completa porque ainda aposto que a canção poderia fazer parte de uma aventura minha e me comove pois sei que, para o indivíduo sertanejo, não é nada bom ler ou ouvir aquilo que lhe causa prazer, noutro provoca profundo, danoso e irreversível asco.

 

É bom pro mercado de disco e de gato, laranja e trator

 Mas quem corta a cana não pega na grana, não vê nem a cor

 Respeito Barretos, Franca, Rio Preto e todo o interior

 Mas não sou texano, a ninguém engano, não me engane, amor

(Trecho de Odeio Rodeio, de Chico César)

 

Todavia, não sou do tipo que faz comícios ou ergo bandeiras. Confio acreditando que as pessoas são livres para sentirem o justo, o grande e pequeno daquilo que realmente sentem, pública ou sofregamente. Só não encostem um punhal colorido em um dos meus olhos, dizendo: - Opine! Diga! Direi que sou contra o sertanejo sujo que se propaga em praça pública.

Creio piamente que ideais não devam ser impostos. Então, que os peões guardem seus punhais e deixem as pessoas refletirem a cerca de questões postas, nunca na ordenança falsa de formadores de opiniões charlatãs, que visam esconder a verdade e destroem o direito de um prazer existir naturalmente. Não acho possível que um boi pule daquele jeito só porque tem um peão em seu dorso, nem acho justo que uma parada evangélica seja realizada com dinheiro público (no único evento do interior paulista foi utilizado este expediente). Se me perguntarem, digo que sou contra. Aliás, sou contra a tudo o que seja manifestação pública: contra rodeios, contra sertanejos rotos e contra evangelizações fora do contexto.

E a polêmica Odeio Rodeio, que lançou pelo seu próprio selo e foi recusada em praticamente todos os canais de rádio e televisão para não ferir interesses econômicos óbvios e a suscetibilidade de alguns colegas, fez com que Chico César ficasse recluso por um tempo, lançando discos maravilhosos, mas que a mídia controladora não as permitiu divulga-las com exatidão. Uma pena.

 

Compacto e Simples / Chico César

Nota 10

Marcelo Teixeira