terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A nova rebeldia de Rita Lee

A confusão gerada entre a cantora Rita Lee e os policiais em um show no Nordeste este final de semana rendeu muitos holofotes, muita conversa e muita briga para ambos os lados. Após anunciar que aquele seria o último show de sua carreira, a cantora tentou interceder o trabalho da polícia, que estava transitando entre os presentes no evento. Rita parou o show e num misto de revolta e ironia, perguntou o que os policiais estavam procurando por ali. Com o show parado, a cantora, detentora de inúmeros sucessos antológicos e clássicos da MPB e do rock nacional, perguntou se os policiais estavam procurando “baseado” e “alegria”. O público presente vaiou a atitude da polícia e vibrou com a postura ofensiva da roqueira, que logo em seguida voltou ao show normal. Ao final, Rita foi levada diretamente para a delegacia, prestou depoimento, mas será processada pela corporação por desacato.
Rita Lee insultou os policiais, chamando-os cachorros e cavalos, quando as autoridades estavam revistando os espectadores do concerto, organizado pelo governo local. A cantora afirmou ter visto membros de seu fã clube, que viajam com ela pelo Brasil, sendo agredidos pelos policiais. Ao avistar policiais na plateia, declarou que não os queria em sua apresentação. “Vocês são legais, vão lá fumar um baseadinho.”
Rita Lee sempre foi a favor da legalização da maconha e ela mesma já provara diversas drogas, como já disse em várias entrevistas. E a mesma Rita Lee que é detentora de inúmeros sucessos antológicos, é também a rainha dos escândalos. Claro que para sua derradeira dos palcos e holofotes, ela teria que dar um showzinho extra para entrar definitivamente para o mundo das artistas encrenqueiras e que, devido a idade já avançada, poder ter o direito de dizer o que quer e na hora que quer.
Quem não se lembra do momento em que ela, juntamente com o vovô do rock, Lulu Santos, usaram de sarcasmo para criar o tal bairrismo entre São Paulo e Rio de Janeiro? Rita Lee também participou do disco de apenas duas faixas do cantor Chico Cesar, defendendo os animais que participam de rodeios cantando uma música que ofendia os nordestinos, os que não suportam a música brega e, acima de tudo, o sertanejo. Em seguida, Rita Lee lançou o disco Amor e Sexo e na faixa As Mina de Sampa, mais uma polêmica ao afirmar que a praia de paulista era o Parque do Ibirapuera.
Neste caso não poderia ser diferente. Rita causou mais uma polêmica mundo afora e desta vez com toda a razão. É intolerável a presença de policiais militares em rondas e vigílias em pleno evento musical, tirando a alegria das pessoas ali presentes e tirando, acima de tudo, o poder de ir e vir dessas mesmas pessoas. Já critiquei muito a presença da polícia militar em jornais e revistas e até mesmo em meu romance Entre Parvos e Alarves e Outros Getúlios e para dizer a verdade, o que a cantora Rita Lee fez não foi apenas servir de exemplo à sociedade como cidadã que paga seus impostos e que quer fazer com as pessoas se sintam bem ouvindo suas canções. Rita fez, acima de tudo, uma prestação de serviço, deixando claro que quem frequenta shows fuma baseado, bebe cerveja e outras porcarias mais.
Por que esses mesmos policiais não frequentam estádios de futebol? Não entram em favelas perigosas? A mesma polícia que entra nos shows sem a permissão daquelas pessoas, é a mesma polícia que matou o dentista negro Flavio Santana, que tirou a vida de inocentes e que não deixa o lazer de ninguém em paz. A mesma polícia que ali estava atrapalhando a festa e descontração das pessoas é a mesma polícia que finge que vê o ladrão e prende o trabalhador. É a mesma polícia que vai até o baile funk e deixa o traficante subir e descer na hora que quer.
Não tiraremos o prestígio das palavras de Rita Lee. Não ficaremos de luto por suas belas frases. Rita acertou ao direcionar sua metralhadora ambulante diretamente na cabeça daqueles homens fardados e em seguida vomitar suas músicas com alto teor de rock in roll nas veias. A sensação de prazer em ouvir aquelas frases proferidas por uma senhora foi única e plausível de merecimentos.
Parabéns, Rita.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Seu nome é Ceumar

A cantora mineira Ceumar é uma dessas cantoras que quando ouvimos não temos a mínima vontade de parar. Sua voz é doce, agradável, espontânea e bela. Sintonia fina, humor nas canções, amores, paixões, sensação de querer mais. Ceumar é uma cantora e compositora reconhecida pelo seu talento, pela sua expressão e pela sua marca registrada. Lançou discos importantes na música popular brasileira, participou de grandes eventos musicais, realizou grandes espetáculos e tem hoje um publico fiel e cativo, que a acompanha aonde quer que vá. Assim é Ceumar, a cantora com voz suave, agridoce e meiga.
Recentemente Ceumar gravou um disco com canções inéditas e ao vivo, o que é raro nos dias de hoje, tendo em vista que todas as canções são novas e sua popularidade com o grande publico é pouco conhecido. O Mais Cultura! de hoje faz questão de mencionar o quanto Ceumar é uma artista única, completa e maravilhosa. Este artigo é para mostrar às pessoas que temos excelentes cantoras e mesmo que o nome soe estranho, Ceumar é uma das raríssimas cantoras que podemos chamar de nossa.
Disco lançado em 2009, ao vivo
Ceumar, Meu Nome (2009, Circus Produções, 29,99) é um delicioso passeio pela seara musical mineira que contêm 20 músicas muito bem distribuídas na melodia ceumariana. Ceumar encanta e destila músicas realmente proporcionais, que entram em nossos poros, enfeitiça nossos sentimentos e melhora nosso humor. Ceumar sabe compor, sabe cantar e, acima de tudo, tem bossa. Todas as canções do disco são de sua autoria, algumas solo e muitas em parcerias com compositores selecionados a dedo para este evento. Gravado ao vivo num grande teatro de São Paulo e tendo o subtítulo de Live In São Paulo, Ceumar nos brinda com 20 canções humanas, brincalhonas, sentimentalistas, românticas, humoradas e sensatas. Difícil não se encantar com esse disco e mais difícil ainda é tentar entender o porquê Ceumar conseguiu um feitio inédito em fazer um álbum ao vivo sem medo de ser incompetente.
O resultado é perfeito e não enjoa, muito pelo contrario: queremos mais e mais e mais Ceumar. Dona de um estilo único, Ceumar trás em seu currículo discos plurais de versatilidade e emoção e a poesia é a liturgia de sua jornada. Para tanto, escolhe profissionais a altura de sua responsabilidade e compila para sua geração personalidades tão pungentes e ulteriores que a fazem ser uma estrela por onde passa. Talvez de todas as cantoras novatas que surgiram neste ínterim de dez anos, na certa Ceumar é uma dessas que jamais perderão seu fio condutor.
Dindinha, o primeiro disco
Homenagens a sua mãe e seu filho, além de uma bela homenagem à cantora Fabiana Cozza, sua amiga de longa data, o disco trás também músicas de protestos, músicas de indagações e músicas feitas especialmente para que possamos mentalizar e cantarolar a todo momento. Impossível designar uma ou outra música para catalogar aqui, pois eu estaria sendo omisso com todo o disco. A informação mais precisa que posso passar é que o disco é formoso, moderno e de uma brasilidade única e determinante.
As influências de Ceumar vão desde Itamar Assumpção, passando por Zeca Baleiro e Chico Cesar e tendo a chance de cantar músicas do ator Gero Camilo, um compositor que merece atenção necessária pela forma e maneira de se expressar e talvez sejam as melhores músicas na carreira da cantora. Mas as influências de Ceumar não param por aí: Luiz Gonzaga e Arnaldo Antunes e os novatos Kleber Albuquerque e Péri são, tão de perto, influências mais que importantes para a cantora.
Ceumar representa a musicalidade brasileira num expoente que não beira limites. Seu estilo é marcante, sua energia positiva nos cativa e emociona e sua beleza se faz presente e precisa para se firmar cada dia mais nesse cenário amplo e difícil chamado música. A profissão a qual Ceumar escolheu requer dom, talento e muita capacidade para exprimir sentimentos poéticos e líricas capazes de nos transportar o cheiro de perfume doce e sensível.
Conheci o trabalho de Ceumar em um show promovido por um Sesc de São Paulo, em homenagem à cantora Clara Nunes. No palco estavam Luciana Mello, Virginia Rosa e Tuti Baê. Ceumar, ao lado destas cantoras com vozes marcantes e pesadas, manteve o equilíbrio da voz cristalina e neutra e seu violão manteve a serenidade de uma calmaria sem fim.


Sempre Viva, o segundo disco
Diferentemente de outros trabalhos já realizados, como o primeiro disco, Dindinha, o segundo, Sempre Viva, o terceiro, Achou, esse quarto disco, ao vivo, só prova o talento e a competência de uma artista completa, com músicas de alto calibre e com uma textura saborosa.
Seu nome é Ceumar, mas o prazer é todo nosso.

**********Dez Estrelas
Marcelo Teixeira.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A nova página de Maria Gadú


Maria Gadú é dessas cantoras que quanto mais você a ouve, mais perto você a quer. Sua voz muitas vezes enjoa, cansa, deteriora os ouvidos, mas quando estamos de bom humor, sua voz enaltece nossa alma e eleva nosso sorriso e, para amantes da boa música, sente a leveza e pureza de sua poesia cantada. Isso me aconteceu quando ela lançou seu primeiro belo disco, Maria Gadú (2009, Som Livre, 29,99): era música na novela do horário nobre, música nos comercias e músicas nas ruas, alto falantes, nos MP3 etc. Uma canseira ouvir Maria Gadú, ainda porque sua canção Shimbalauê era a mais executada em todos os quatro cantos do país. Maria Gadú surgiu como um verdadeiro achado para salvar a música popular brasileira e esse achado se deu bem no início, com tamanho talento e voracidade na sua voz e nas belas letras.
Mas com tanta agressividade pública da cantora em televisão, programas de rádios e internet, a imagem de Gadú foi cansando a tal ponto que suas músicas passaram a ser chatas. Rotineiras. Cansativas. Bobas. Precisava de um descanso o mais rápido possível e foi justamente isso o que ela fez: se reclusou e ficou quietinha no seu canto.
Prometi a mim mesmo que não compraria um disco sequer de Maria Gadú. Talvez pela canseira que ela tenha me dado e talvez pelas excentricidades que a própria cantora tenha lançado depois do belo disco de estreia. Lançou um disco ao vivo por um canal pago, mas esse disco é tão ímpar em sua carreira, que nem compensa comentar. Em seguida veio o chato disco com Caetano Veloso, com as mesmas repetições de seus outros dois discos anteriores e foi neste ponto que Maria Gadú se mostrou fadigosa, talvez pelas repetições. Mas neste interim de canções velhas e batidas, eis que surge uma nova Maria Gadú, capaz de nos enfeitiçar, nos enlouquecer e nos endiabrar com suas belas músicas.
O novo disco de Gadú, lançado em 2011
Mais Uma Página (2011, Slap, 29,99) é um disco totalmente diferente do primeiro a começar pela sonoridade, que está mais pop e mais estrangeiro e por canções mais singelas e fáceis de serem cantadas. Mesmo assim, Maria Gadú não está para brincadeiras e neste disco ela convidou pesos pesados de grande nome e com variantes distintas às suas. O disco é bonito, a capa é de uma beleza pura e o encarte é perfeito. Como ela mesma escreveu nesse encarte, “nasceu a fina flor”. Não podemos, em hipótese alguma, comparar este disco com o primeiro e a única comparação que faço é a qualidade. Talvez tentando impressionar o grande público logo de cara, no primeiro disco a cantora nos brindou com Chico Buarque (em uma música muito antiga e esquecida), uma música em francês de Edith Piaf e com canções próprias, canções essas que são de um profissionalismo puro e maduro.
Mais Uma Página é o inverso de um passeio lírico e vai além das fronteiras que tentaram impedir o caminho da cantora nesse intervalo em que lançava um disco ao vivo e a compilação com Caetano. Músicas realmente bonitas fazem parte deste estribilho saudável e charmoso, que vale a pena conferir.
No Pé do Vento é o pseudônimo do título do álbum e é uma canção que gruda em nossas mentes puramente por ser fácil de cantar, nos enfeitiça e encanta, o que não acontece com Tarengué, que mais se parece com Shimbalauê, do primeiro disco. Pode não parecer, mas Gadú tem suas preferências indígenas e isso fica mais que provado nessas duas canções e talvez, em seu terceiro disco, venha mais um pertencente a tribo. Estranho Natural é perfeita, rápida, com um toque de quero mais. Um recado dado numa forma lisonjeira e natural. Em Reis ela canta, grita, estoura seus poros e destoa todo o seu carisma para provar que é uma cantora diferente. Axé Acappella é uma música complicada, mas nem assim ruim. É longa, extensa, mas mesmo com esses itens, Gadú consegue dar conta do recado.
Oração ao Tempo é cansativa e parece que Gadú pegou gosto de reverenciar Caetano Veloso. A música é uma das mais regravadas do cantor e neste disco ele fica um pouco mais enxuta e bonita. Mas Maria Gadú não é só uma cantora de regravações, tanto que gravou músicas a altura de uma verdadeira artista, talvez pensando num futuro próximo. Músicas como Linha Tênue, Estranho Natural e Reis demonstram o quanto a artista pensa em sua carreira para daqui a um tempo. As canções são de uma naturalidade extrema, capaz de nos fazer apaixonar pela cantora num piscar de olhos.
Pensando, quiça, numa carreira internacional, Gadú grava neste disco duas canções em inglês, uma em espanhol e um fado, pouquíssimo ouvido por terras brasileiras. Algumas cantoras já tentaram implantar a música lusitana por aqui, caso da atriz e cantora Bibi Ferreira e do legitimo português Roberto Leal, além de Caetano Veloso ter gravado uma música totalmente em português no disco Cê e todos foram de enorme sucesso no passado. Mesmo assim, Gadú apostou firmemente no fado e o resultado é extraordinário.
Participações de Lenine, Jorge Drexler, Dani Black e Marco Rodrigues, Maria Gadú prova, com Mais uma Página, que sua página virou e que está pronta e hábil para qualquer eventualidade, dando tapas de luva de pelico em pessoas que não a conhece musicalmente e que não está para brincadeiras de fazer músicas para agradar uma única vez. Ela canta, encanta, compõe, diverte e regrava pérolas que muitas vezes soa batido (caso de Amor de índio), mas que no fundo fica a sensação de nova, inédita. Uma artista que não precisa de rótulos para ser chamada de cantora. E se no primeiro disco, Maria Gadú se mostrou um pouco cansativa, neste segundo disco mais autoral e autêntico, ela não deixou de ser ela mesma: uma cantora espetacular e genial.

**********Dez Estrelas
Marcelo Teixeira.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Maysa Matarazzo - a cantora dos tormentos amorosos


Maysa Figueira Monjardim, mais conhecida como Maysa Matarazzo ou simplesmente Maysa (São Paulo ou Rio de Janeiro, 6 de junho de 1936 — Niterói, 22 de janeiro de 1977), foi uma cantora, compositora e atriz brasileira. Ao longo da sua carreira imortalizou uma discografia com mais de 25 títulos. Cristalizou uma das mais sensíveis obras da Música Popular Brasileira.
Segundo algumas fontes, Maysa teria nascido na capital paulista, numa tradicional família do estado do Espírito Santo que logo se mudou para o Rio de Janeiro. Outras fontes, porém, afirmam que seu nascimento foi mesmo no Rio. Da capital paulista ou do Rio, é certo, no entanto, que em 1947 a família transferiu-se para Bauru, no interior paulista. Logo depois, mudaram-se novamente para a capital. Mesmo fixada em São Paulo, a família ainda mudaria de endereço várias vezes.
Maysa era neta do barão de Monjardim, que foi presidente da província do Espírito Santo por cinco vezes. Estudou no tradicional colégio paulistano Assunção e no Sacré-Cœur de Marie, em São Paulo. As férias eram passadas em Vitória, onde reencontrava os tios e primos.
Casou-se aos dezessete anos com o empresário André Matarazzo, dezessete anos mais velho, amigo de seus pais, e membro do ramo ítalo-brasileiro da família Matarazzo, de cuja união nasceu Jayme Monjardim Matarazzo, diretor de cinema e telenovelas.
Desquitou-se do marido em 1957, pois ele se opôs à carreira musical. Maysa teve vários relacionamentos amorosos, entre eles, com o compositor Ronaldo Bôscoli, o empresário espanhol Miguel Azanza, o ator Carlos Alberto, o maestro Julio Medaglia, entre vários outros. Ao assumir o relacionamento com Miguel Azanza em 1963, Maysa estabeleceu residência na Espanha onde morou durante anos com o marido e o filho. Só retornou definitivamente ao Brasil em 1969. Na década de 70, Maysa se aventuraria pelo mundo das telenovelas e do teatro participando de produções como O Cafona, Bel-Ami e o espetáculo Woyzeck de George Büchner. Em 1977, um trágico acidente automobilístico na Ponte Rio-Niterói encerrava a carreira e o brilho da estrela, que foi um dos maiores nomes da música popular brasileira.
Vivendo isolada na casa de praia em Maricá, desde 1972, para onde ia todo o fim de semana, Maysa morreu a caminho da mesma casa de praia em Maricá, enquanto dirigia a “Brasília azul” em alta velocidade, no dia 22 de Janeiro de 1977, por volta das 5 horas da tarde, na Ponte Rio-Niterói. O efeito de anfetaminas somado à ingestão excessiva de álcool e ao cansaço físico e psicológico que a cantora vinha sofrendo teriam provocado o fatídico acidente. Porém, a conclusão dos laudos periciais mostrou que no momento do acidente ela estava completamente sóbria, não havia resquícios de álcool em seu organismo.

Em uma de suas últimas anotações, registrou:

 Hoje é novembro de 1976, sou viúva, tenho 40 anos, 20 de carreira e sou uma mulher só. O que dirá o futuro?
— Maysa

Anos 50 e o inicio da carreira
Em 1956, Maysa foi convidada pelo produtor Roberto Côrte-Real para gravar um disco, durante uma reunião familiar. O álbum Convite para ouvir Maysa (todo preenchido com composições próprias) foi gravado logo após o nascimento de seu único filho Jayme Monjardim. O disco gravado apenas em caráter beneficente (toda sua renda fora destinada ao Hospital do Câncer de Dona Carmen Annes Dias Prudente), logo começou a fazer sucesso, tocando nas rádios paulistas e cariocas. Pouco a pouco, a carreira de Maysa foi adquirindo um caráter profissional, o que descontentou seu marido André Matarazzo e logo levou seu casamento à ruína. Já em 1957 (ainda não desquitada), Maysa era contratada da TV Record paulista, com um programa só seu patrocinado pela Abrasivos Bombril, acabava de gravar seu segundo disco, de 10 polegadas, intitulado Maysa.
Em 1957, com menos de um ano de carreira, no julgamento anual dos cronistas de Rádio de São Paulo, para a escolha de Os Melhores do Ano de 1956, Maysa foi apontada como 'A maior revelação feminina, O melhor compositor e O melhor letrista. O Clube dos Cronistas de Discos concedeu-lhe o título de A maior cantora do ano. No ano seguinte, foi premiada com o disputado Troféu Roquette Pinto de A melhor cantora de 1958. No ano anterior, ela já havia recebido o mesmo prêmio como cantora revelação de 1957. O jornal O Globo, que em 1957 havia conferido a ela o Disco de Ouro de cantora revelação, agora também a premiava como a principal voz feminina do país. Também seria de Maysa naquele ano o Troféu Chico Viola, para o melhor disco de 1958.
Em 1958 (já desquitada) muda-se para o Rio de Janeiro, então Capital Federal e se torna também contratada da TV Rio, com um programa só seu patrocinado pelos Biscoitos Piraquê. Lança seu terceiro disco (agora de 12 polegadas) intitulado Convite para Ouvir Maysa nº 2. O disco foi considerado pela crítica musicalmente irretocável, tornou-se campeão de vendas e lançou a canção Meu Mundo Caiu como o maior sucesso do ano. Até o fim da década Maysa seguiria sua carreira acumulando diversos prêmios, vendo a carreira e popularidade, em crescente ascensão . Seus discos eram campeões de vendas e seus programas de televisão eram muito prestigiados. Ainda em 1958 ela se tornaria a melhor e mais bem paga cantora do Brasil.
Anos 60
Durante os anos 60, Maysa aprimorou constantemente a técnica vocal, registrando em discos de grande qualidade técnica o auge de sua carreira. A partir de 1960, empreendeu inúmeras excursões pelo mundo, se apresentando em vários países, além de aderir ao movimento da Bossa Nova, com o qual pode expandir referências musicais. Junto a um grupo formado por Roberto Menescal, Luiz Eça, Luiz Carlos Vinhas, Bebeto Castilho, Hélcio Milito e Ronaldo Bôscoli, foram responsáveis pelo lançamento da Bossa Nova no exterior. Em um histórica turnê à Argentina e o Uruguai, em 1961. Maysa teve uma intensa carreira internacional. Em 1960, tornou-se a primeira cantora brasileira a se apresentar no Japão, a convite da companhia área brasileira Real Aerovias, que acabara de estrear o vôo Rio de Janeiro - Tóquio. Excursionou pela América Latina, passando diversas vezes por Buenos Aires, Montevidéu, Punta del Leste, Lima, Caracas, Bogotá, Porto Rico e Cidade do México. Apresentou-se em Paris, Lisboa, Madri, Nova Iorque, Itália, Marrocos e Angola. Lá, se apresentava em casas noturnas e gravava discos. Entre 1960 e 1961 realizou temporada nos Estados Unidos, gravando o lendário álbum Maysa Sings Songs Before Dawn pela Columbia Records norte-americana. Lá, também se apresentou no sofisticado Blue Angel Night Club, a mais requintada casa noturna de Nova Iorque, à época.
Maysa e Gal Costa
Ainda em 1963, empreendeu um histórico concerto no Olympia de Paris, naquela que é a mais famosa casa de espetáculos da capital francesa. Em 1966 participou do II Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, classificando para a finalíssima a canção Amor-Paz de sua autoria, com a compositora Vera Brasil, juntamente com Disparada, com Jair Rodrigues e A Banda, com Chico Buarque e Nara Leão. No mesmo ano, Maysa também participou da primeira edição Festival Internacional da Canção. Neste último alcançou o terceiro lugar na fase nacional e o prêmio de melhor intérprete brasileira do festival, defendendo a canção Dia das Rosas de Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo. Desbancando totalmente a vencedora Saveiros, interpretada por uma então novata: Nana Caymmi.
Retornou definitivamente ao Brasil em 1969. Neste ano, estreou Maysa Especial com Ítalo Rossi na TV Tupi carioca e o espetáculo A Maysa de Hoje, gravado em disco, com temporadas no Canecão do Rio de Janeiro e no Urso Branco de São Paulo, obtendo sucesso de crítica e público. Pouco tempo depois, participou como jurada do V Festival da Música Popular Brasileira da TV Record. E do IV Festival Internacional da Canção, com a música Ave Maria dos Retirantes, de Alcyvando Luz e Carlos Coqueijo, que não se classificou para a final. Naquela edição, o Troféu Galo de Ouro (premiação máxima do festival), ganhou o nome de Maysa Monjardim.
Anos 70
Em 1970, Maysa lança pela Philips o álbum Ando Só numa Multidão de Amores, que não obteve sucesso de público. Maysa passou então a investir na carreira de atriz e já em 1971 estreou na telenovela O Cafona da Rede Globo, interpretando Simone, seu alter-ego. Por esse papel, Maysa acabou ganhando o prêmio de Coadjuvante de Ouro. No mesmo ano, integrou o elenco da telenovela Bel-Ami da TV Tupi, interpretando Márica, mas abandonou a produção. Ela ainda montaria o espetáculo teatral Woyzeck de George Büchner, sem sucesso.
Após algumas temporadas em boates do Rio de Janeiro e São Paulo, desde o fim de 1972, Maysa se afasta do meio artístico e vai morar em uma casa de praia, localizada no município de Maricá, litoral fluminense. Lá, Maysa morou até o fim da vida, na maior parte em companhia do namorado, o ator Carlos Alberto. Durante este período, quase não gravou discos nem fez shows, fazia poucas aparições na mídia e reservava suas aparições a participações especiais, como no Fantástico e no Brasil Especial, da TV Globo.

Realizou alguns dos últimos shows de sua carreira, na boate Igrejinha, localizada em São Paulo, em 1975. A temporada, pouco tempo depois, ficaria marcada como “a turnê do adeus”. Até ali já havia feito inúmeras temporadas de grande sucesso em diversas casas noturnas de São Paulo como a Cave, o Oásis, Urso Branco, Di Mônaco e Igrejinha. E do Rio de Janeiro como o Club 36, Au Bon Gourmet, Meia-Noite do Hotel Copacabana Palace, Canecão, Flag, Sucata, Fossa e Number One, dentre outras casas tradicionais e famosas.
Estilo Musical
As composições e as canções foram escolhidas de maneira a formar um repertório sob medida para o seu timbre, que não era o de uma voz vulgar, pelo contrário, possuía um viés melancólico e triste, que se tornou emblemático do gênero fossa ou samba-canção. Ao lado de Maysa, destacam-se Nora Ney, Ângela Maria e Dolores Duran. O gênero, comparado ao bolero, pela exaltação do tema amor-romântico ou pelo sofrimento de um amor não realizado, foi chamado também de dor-de-cotovelo. O samba-canção (surgido na década de 1930) antecedeu o movimento da bossa nova (surgido ao final da década de 1950, em 1958), com o qual Maysa também se identificou. Mas este último representou um refinamento e uma maior leveza nas melodias e interpretações em detrimento do drama e das melodias ressentidas, da dor-de-cotovelo. O legado de Maysa, ainda que aponte para dívidas históricas com a bossa, é o de uma cantora de voz mais arrastada do que as intérpretes da bossa e por isso aproxima-se antes do bolero.
Contemporânea da compositora e cantora Dolores Duran, Maysa compôs 30 canções, numa época em que havia poucas mulheres nessa atividade. Maysa interpretava de maneira muito singular, personalista, com toda a voz, sentimento e expressão, sendo um dos maiores nomes da canção intimista. Um canto gutural, ensejando momentos de solidão e de grande expressão afetiva. Um dos momentos antológicos desta caracterização dramática foi a apresentação, em 1974, de Chão de Estrelas (Sílvio Caldas e Orestes Barbosa), e de Ne Me Quitte Pas (10 de junho de 1976), tendo sido apresentadas em duas edições do programa Fantástico da Rede Globo.
Todo este característico Estilo Maysa, influenciou ao menos meia dúzia de sua geração, e principalmente a geração posterior a sua. Este Estilo Maysa se tornou notável em cantores e compositores, como: Ângela Rô Rô, Leila Pinheiro, Fafá de Belém, Simone e também Cazuza e Renato Russo.
Maysa em Paris, gorda e tentando se livrar do alcool
Celebrizaram-se as canções: Ouça, Meu Mundo Caiu, Tarde Triste, Resposta, Adeus, Felicidade Infeliz, Diplomacia e O Que? (todas de sua autoria) e mais: Ne Me Quitte Pas, Chão de Estrelas, Dindi, Por Causa de Você, Se Todos Fossem Iguais a Você, Eu Sei Que Vou Te Amar, Franqueza, Eu Não Existo Sem Você, Suas Mãos, Bouquet de Izabel, Bronzes e Cristais, Bom Dia Tristeza, Noite de Paz, Castigo, Fim de Caso, O Barquinho, Fim de Noite, Meditação, Alguém me Disse, Cantiga de Quem Está Só, A Felicidade, Manhã de Carnaval, Hino ao Amor (L'Hymne a L'Amour), Demais, Preciso Aprender a Ser Só, Canto de Ossanha, Tristeza, As Mesmas Histórias, Dia das Rosas, Se Você Pensa, Pra Quem Não Quiser Ouvir Meu Canto, Light My Fire, Chuvas de Verão, Bonita, As Praias Desertas, Bloco da Solidão, Tema de Simone e Morrer de Amor.

Discografia
Álbuns de estúdio
·       Convite para ouvir Maysa (1956)
·       Maysa (1957)
·       Convite para ouvir Maysa n. 2 (1958)
·       Convite para ouvir Maysa n. 3 (1958)
·       Convite para ouvir Maysa n. 4 (1959)
·       Maysa É Maysa... É Maysa... É Maysa (1959)
·       Voltei (1960)
·       Maysa Canta Sucessos (1960)
·       Maysa Sings Songs Before Dawn (1961)
·       Maysa, Amor... E Maysa (1961)
·       Barquinho (1961)
·       Canção do Amor Mais Triste (1962)
·       Maysa (1964)
·       Maysa (1966)
·       Maysa (1969)
·       Canecão Apresenta Maysa (1969)
·       Ando Só Numa Multidão de Amores (1970)
·       Maysa (1974)
EP's
·       Maysa (1959)
·       Favela (1962)
·       Maysa (1963) (1963)
·       Dia das Rosas (1966)
·       Reza (1968)
·       Ave Maria dos Retirantes (1969)
Compactos simples
·       Esse Nosso Olhar (1959)
·       Ad Ogni Costo (1967)
·       Et Maintenant (1968)
·       Pálida Ausência (1968)
·       San Juanito (1969)
·       Love Story (1971)
·       Tema de Simone (1971)
·       Palavras, Palavras (1972)
·       Tema de Bravo! (1975)
 Participações
·       Rio - Cidade Maravilhosa (1960)
·       Irmãos Coragem (1970) Trilha sonora da telenovela da Rede Globo.
·       Bandeira 2 (1971) Trilha sonora da telenovela da Rede Globo.
Coletâneas
·       Os Grandes Sucessos de Maysa (1959)
·       A Música de Maysa (1960)
·       Ternura... É Maysa (1965)
·       Canecão Apresenta Maysa (1969)
·       Dois na Fossa - Maysa & Tito Madi (1975)
·       Para Sempre Maysa (1977)
·       Bom É Querer Bem (1978)
·       Retrospecto vol. 3 (1979)
·       Convite para ouvir Maysa (1988)
·       Maysa Por Ela Mesma (1991)
·       Tom Jobim por Maysa (1993)
·       Maysa (1996)
·       Bossa Nova por Maysa (1997)
·       Simplesmente Maysa (2000)
·       Quatro em Um - Volume 13 (2001)
·       Retratos - Maysa (2004)
·       Novo Millennium (2005)
·       Maysa - Quando Fala o Coração (2009)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Gustavo Lima: mais um inseto na música caipira


O neo-sertanejo Gustavo Lima
Matem Gustavo Lima. Queimem suas fotos. Quebrem seus CDs, rasgam suas roupas. Defenestram Gustavo Lima. Talvez o que há de pior no cenário musical hoje em dia no quesito música, esteja representado pela nova turma do neo-sertanejo caipira modernizado autodenominado pop sertanejo universitário. Mais um caipira entra para a seleta onda de grupinho nada sofisticado, que já conta com os caipiras Luan Santana, Paula Fernandes, Michel Teló, entre outros ogros e serpentes. Agora é a vez de Gustavo Lima estar na crista musical, com suas roupinhas grudadas, sua música de quinta categoria embalada por jovens sem cultura e por seus cabelos arrepiados.
Nivaldo Batista Lima, vulgo Gustavo Lima, é a sensação da música nordestina. Como legítimo caipira, os corações a lá Luan Santana e o sorriso falso agradam as mulheres sem um pingo de civilização. Dono de um talento musical avaliado como inconsistente, Gustavo Lima tornou-se nacionalmente conhecido com a popularidade da canção Balada Boa, que o próprio definiria de forma negativa, tendo inclusive se recusado a gravá-la inicialmente, mas que eventualmente se tornou um hit chato, meloso e indecente.
O início da fabricação
Este cantor é uma fabricação caseira da pior espécie e qualidade. Uma junção de vários cantores num só corpo, a combinação perfeita entre defeito de fabricação e estereótipo desumano com uma peça no motor que está quebrada. Por que deixaram Gustavo Lima aparecer na mídia? Por que não o intercedam? Talvez a resposta mais sublime para esta indagação seja porque Gustavo Lima, com todos esses defeitos, seja a cara do Brasil: um Brasil sujo, cheio de carniças que idolatram gente deste nível cultural e intelectual.
Cópia lasciva de Luan Santana, Gustavo Lima é o que há de pior na música popular brasileira, superando Zezé de Camargo e Luciano e João Bosco e Vinícius. É impressionante como as pessoas se comportam de maneira obscura, insensata e sem pudor quando ouvem as músicas, danças, jeitos e trejeitos de um ninfeto que está ali para denegrir a língua portuguesa. Mais vulgar ainda é aturar esses tipos pernósticos na música popular contemporânea. Se Gustavo Lima, com sua voz anasalada e seu risinho falsificado é o resultado de muito esforço de artistas renomados, por favor, isso é a prova de que o povo brasileiro, literalmente, é insano.
Cópia lasciva de Luan Santana
Não compensa introduzir neste artigo algo que o valha com relação ao disco do determinado cantor. O dito cujo não canta. O dito cujo não embala. O dito cujo nasceu apenas para ser cópia fiel de Luan Santana, outro mero cantor vesgo que mais pula no palco do que mostra seu talento. Gustavo Lima é o novo lixo consumido por pessoas incultas. Gustavo Lima é o lixo que consumimos. Gustavo Lima é o que há de ruim, um verdadeiro quilo de lixo brasileiro.
Não vão aos seus shows. Cancelem seus shows. Maltratem suas ideias. Risquem seu nome nos holofotes. Xingam Gustavo Lima. Cuspam no Gustavo Lima. Só assim, com essa agressividade toda é que podemos dormir tranquilos, porque será um inseto a menos na música popular brasileira.

Marcelo Teixeira.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Gal Costa: inovação ou experimentação eletrônica?

Recanto, lançado no final de 2011
Recanto (2011, Universal Music, 24,99) é um disco complicado de ser decifrado. Inicialmente é de uma estranheza total. Depois de muitas sonoridades e de muito ouvir, esmiuçando cada detalhe, cada som, cada palavra dita por Gal Costa, fica nítido que o disco é, acima de tudo, uma estranheza. Gal Costa e Caetano Veloso estão de novo juntos, depois de muitos anos separados musicalmente (eles lançaram um disco em conjunto na década 70) e depois disso, Gal gravou as músicas que Caetano lhe enviava. Músicas essas que não foram poucas. Gal é praticamente uma recordista no quesito Caetano Veloso: amigos de longa data, Caetano sempre a presentou com suas belas músicas, algumas até difíceis de serem entendidas, outras um verdadeiro luxo.
E Gal e Caetano voltaram a se encontrar para fazer Recanto, depois de quase seis anos longe dos estúdios da parte dela. Aos 66 anos, Gal se renova e faz um disco diferente do que já fez até então. Um disco que praticamente acrescenta um punhado no cenário musical, mas que para Gal Costa e seus fãs pode ser que resulte em algo proveitoso. Seria esse disco uma inovação na carreira de Gal ou simplesmente uma mera experimentação? Gal Costa sempre foi uma cantora que gosta de provocar, mesmo que timidamente, e geralmente essas mudanças, estilos ou visual são bem aceitos por seu público. Inovar é mostrar algo novo, totalmente diferente daquilo que já foi feito e Gal o faz perfeitamente nesse disco, afinal, em matéria de inovação, Gal Costa acertou em cheio ao fazer Recanto. Mas experimentar é a mesma coisa que testar, avaliar, examinar e essa maldita experimentação foi o motim para que Gal Costa errasse na mão ao lançar o novo disco.
Gal Costa e o "mano" Caetano Veloso
Caetano Veloso vem dizendo que o disco nasceu depois de ver uma apresentação de Gal em Portugal e que queria fazer um disco somente com composições próprias e na voz de Gal, mas com um estilo e uma sonoridade diferente, dispare. Gal aceitou na hora, afinal, nunca recusa um convite do amigo. E aceitou justamente porque precisava lançar algo novo, inovador, experimentando ousar algo que seria inédito em sua carreira.
Cantora de vertente ímpar e dona de uma voz cristalina, Gal Costa é dona de um dos acervos mais bem requisitados de toda a MPB. Medalhona de ouro de velhos tempos, sendo peça chave de Dorival Caymmi a Chico Buarque, passando por Chico Cesar e Zeca Baleiro, Gal pode fazer o que quiser com seus discos, com seus shows (vale ressaltar que ela já mostrou os seios em público numa apresentação na década de 90) e pode cantar desafinado que todos entenderiam. Mas o que esse disco Recanto quer expressar?
Caetano investiu pesado no eletrônico, que, aliás, ele andava fazendo em seus próprios discos, como Zii e Zie e , dois discos bonitos, caros intelectualmente e com palavras ousadas. Na voz doce de Gal esse eletrônico às vezes não soa bem.
O repertorio vez por outra peca. Músicas como Recanto Escuro, que tem aproximadamente 3 minutos e 50 segundos, chega a ficar cansativo pelo tom dramático e fúnebre e parece que nunca vai acabar. A canção é bonita, mas peca pela sonoridade eletrônica. Quem a ouve de início acha que o disco está com ruídos. Cara do Mundo é perfeita em letra, harmonia e nem se percebe as batidas eletrônicas que o sintetizador de Kassin produz. E Miami Maculelê é um rap legalzinho, com teor para o baixo calão nada típico de Caetano, mas que não merece destaque nenhum. Mansidão é uma regravação gostosa de ouvir e nos remete aos velhos tempos da cantora.
O disco tem lá suas vantagens. A capa é linda, mostrando uma certa Gal com rugas ao redor dos olhos, mas que é de uma simplicidade única. O olhar de Gal é sério, impiedoso e nos intimida. Ela quer nos dar um recado qualquer, que está dentro de seu recanto escuro. Mas as letras a qual Caetano compôs ainda são mistérios. Nada às vezes se encaixa e as confusões de paródias e frases desconexas são por muitas vezes intoxicadas por egocentrismos do compositor.
Neguinho é uma das canções que Caetano julga ser politicada, mas na verdade, a música nada mais é do que um punhado de frases cuspidas e mastigadas como uma revolta à sociedade, ao governo e aos órgãos públicos que nada mais fazem do que assistir pela televisão a revolta dos pobres. Não julguem esta música como racismo, pois Caetano não o é e ele mesmo já fez diversas canções em homenagens aos negros e em várias e inúmeras entrevistas, ele disse ser negro de alma.
Tudo Dói é uma música que brinca com as baterias eletrônicas de Kassin e que é uma experimentação boa de ouvir. Gal também brinca com sua própria voz e o refrão desta canção fixa em nossas mentes por horas. O Menino é linda, hermética e poética, talvez considerada a melhor do disco, com suas frases e palavras sintéticas.
Estranhezas a parte, Caetano Veloso ainda compõe e tenta salvar a MPB de agouros sertanistas e mesmo que a batida seja eletrônica, adversa da MPB, sua atualidade nada mais é do que saudável. Gal soube se sair muito bem dentro deste antro que poderia ser uma profunda decepção para sua carreira, mas foi merecedora de aplausos.
Sendo inovação ou experimentação, ainda prefiro Gal Costa cantando sem as batidas eletrônicas e espero que seu próximo disco seja mais a sua cara: a cara da Gal.

******* Sete Estrelas
Marcelo Teixeira.